DEZEMBROS
Aliás, César Cardoso expressou melhor do que eu esse sentimento de não querer deixar os tempos relaxados dos feriados findanos pra singrar o mar do próximo ano.
E chegamos a dezembro,essa ilha de férias cercada de meses de trabalho por todos os lados. Ou não, na terra das capitanias hereditárias há sempre o lado de fora, o lado do desemprego,o lado onde nunca há ninguem do seu lado. E você, assim como dezembro, também é uma ilha.
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Voltamos à infância, esse período da vida que não deixa nenhum náufrago dormir, com suas lembranças fazendo-o soluçar para ninguém. Mas é da lembrança que lhe vem o conforto. Ele lembra que na infância toda ilha é uma porção de terra com um tesouro enterrado. Toda ilha é um sem parar de sonhos de piratas terríveis, batalhas dantescas e riquezas sem fim. E então ele pensa, como nós, o quanto custa sair do dezembro eterno da infância, largar os sonhos e aportar nas ilhas, sem ter mais na bagagem a ilusão de que existem coisas sem fim, a começar por nós mesmos.
- César Cardoso
"dezembros: as ilhas"
"dezembros: as ilhas"