O PRIMEIRO DIA
Relutei a sair da cama. A afastar as cobertas e girar as pernas até o chão.
Ontem também terminei o dia apreensivo.
Pois agora vem o primeiro dia do ano. Terminam os feriados, a sequencia dos tempos onde as pessoas festejavam ou viajavam ou simplesmente descansavam e me deixavam em paz, as publicacoes em almanaques ou retrospectivas folgavam por uma semana ou mais, as empresas cerram portas, planos concretos ficam suspensos em favor de resolucoes abstratas.
As aporrinhações foram reduzidas. Mas agora recomeça a vida. A roda viva.
Hoje os bancos reabrem e os relogios de pontos despertam seu tiquetaque e um ano se desenrola intacto para ser trilhado. Do primeiro grau da escada observo os degraus. Preferiria me esparramar aqui no pátio.
Eu pessoalmente embarco numa viagem que é a realização concreta deste salão que vai me demandar intensamente e me consumir totalmente daqui ao inicio de maio. Isto pelo menos me empolga embora bloqueie meu tempo. Pior é retomar compromissos constantes e rotineiros. E pagar contas. E prolongar dívidas. E contrair preocupações.
Saem Papai Noel, saem o Ano Velhinho, vai embora já o menino com a faixa e que chamam de Ano Novo. Entram as agendas e os horários marcados. O calendário. As calendas, As contendas. E nós, dromedários
burros de carga
iniciamos a travessia do deserto.