OSCARALHO
Michael Moore lavou a minha alma.
Claro, em seguida a mídia cai de pau, que ele foi exagerado, que é um fanático, que ali não foi lugar praquilo...
Ali foi exatamente o lugar pra um discurso desses.
Ele estava no cerne do americanismo, no palco das engrenagens que fabricam os sonhos ufanistas, militaristas, americanos.
Eu gosto de assistir ao Oscar. Acho a cerimonia uma babaquice corporativa, o sistema de premiação é injusto, mas acabo assistindo. Minha paixão por cinema é tão grande que incorporo até o Oscar. Aliás - interessante - mais pra assistir aos clipes e homenagens de filmes antigos do que torcer pelos novos.
Quando a cerimônia interminável a madrugadeira era ainda mais brega, eu e Ana inventamos uma maneira de torná-la mais palatável: começamos a chamar amigos pra participar conosco através de um bolão chamado Oscaralho. Quem faz mais pontos no bolão leva, além do dinheiro, um mero detalhe, a reluzente e fálica estatueta do Oscaralho confecionada de maneira diferente a cada ano por nosso filho Luke Bosshard.
Pra manter o interesse dos azarados, quem faz menos pontos leva a versão menor (e mais anatomica) do Oscaralhinho.
Em 2003, nada disso. Nossa náusea impede celebrações e brincadeiras. Não, como disse Nicole Kidman, por estar celebrando enquanto nossos garotos morrem além mar. É que tudo aquilo ficou alienígena e falso. Não tenho como sorrir amarelo com as piadinhas de Steve Martin.
No meu ceu agora, infelizmente, as estrelas não são as de Hollywood mas os rojões mortíferos caindo sobre as margens do Rio Tigre.
Mas Michael Moore rasgou o cenário de firmamento e por um breve instante os clarões das bombas foram mais que os refletores cenográficos.
Depois, a música estridente tocou, tudo voltou, the show must go on, e a lua ali nasceu. But it´s only a paper moon.