Por que a expressão à deriva de George W. Bush na coletiva de ontem? Talvez porque ele tenha sido vítima da própria máquina de propaganda, destinada ao inimigo. Acreditou que os iraquianos querem ser libertados da tirania de Saddam Hussein por uma invasão e ocupação de 200 mil soldados do Bem.
Neste sentido, os revezes no sul do país são particularmente amargos para os EUA. Se sequer em Umm Qasr e Basra - as duas cidades grandes mais avessas ao regime de Saddam Hussein - a população acolheu como libertadora a passagem dos tanques americanos e britânicos, é porque o roteiro está descarrilhado.
No fundo, a única batalha decisiva que os Estados Unidos precisariam vencer é a da identidade nacional do país a ser conquistado. E esta, a curto ou longuíssimo prazo, parece perdida: até agora, os iraquianos se revelaram mais iraquianos do que inimigos do atual regime. Governos e regimes são transitórios. A pátria, não. A dimensão da derrota dos Estados Unidos só poderá começar a ser avaliada depois da derrubada de Saddam Hussein.
-Dorrit Harazim
"Deus e os Generais"
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