Com Marçal, Flávio Bolsonaro pode reviver campanha disruptiva de 2018
Juliano Spyer
Estamos caminhando para um rompimento entre Jair Bolsonaro e Silas Malafaia? Na semana passada, o pastor se posicionou publicamente contra a pré-candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro.
As declarações de Malafaia circularam nos jornais ao lado de outra notícia relevante: o influenciador Pablo Marçal se encontrou com Flávio e, durante um culto, orou por sua pré-candidatura.
Nas eleições municipais de 2024 em São Paulo, Malafaia e Marçal se enfrentaram publicamente na disputa pelo apoio do ex-presidente. Bolsonaro fechou com Ricardo Nunes, mas manteve distância do "candidato do sistema". Na ocasião, Malafaia criticou Bolsonaro e elogiou a lealdade de Tarcísio, que bancou a candidatura de Nunes.
Agora, o pastor defende que Bolsonaro reveja sua escolha e indique, no lugar de Flávio, a dobradinha Tarcísio–Michelle.
Malafaia argumenta de forma pragmática. Segundo ele, Flávio preserva o apoio do bolsonarismo raiz, mas Tarcísio tem menor rejeição e maior capacidade de disputar votos no centro político. Michelle, por sua vez, mobilizaria o voto de mulheres evangélicas —um dos grupos que, em 2022, se afastou de Bolsonaro e contribuiu para a vitória apertada de Lula.
Na leitura do pastor, a proposta beneficia Bolsonaro em dois sentidos: aumenta as chances eleitorais da direita e mantém a família próxima do poder. É nesse ponto que entra o fator Pablo Marçal.
O influenciador surpreendeu analistas ao seguir um caminho semelhante ao de Bolsonaro em 2018. Por pouco, sua atuação disruptiva não o levou ao segundo turno das eleições municipais, com chances de vitória.
Marçal é um ás do engajamento digital. Embora tenha afirmado que disputaria um cargo executivo em 2026 e depois recuado, sua atuação como uma espécie de "spin doctor" de Flávio pode representar um problema para o PT.
O partido do presidente talvez não esteja atento ao risco de enfrentar uma campanha coordenada por Marçal: barulhenta, baseada em factoides, capaz de confundir jornalistas e dominar ciclos de atenção —como ocorreu em 2024. Apesar da campanha milionária, Boulos não incomodou Marçal, e o fator idade, somado à menor familiaridade do PT com a comunicação digital, pesa contra Lula.
Marçal foi o candidato que menos gastou, não utilizou fundo partidário, mobilizou doações de eleitores de todo o país —apesar de disputar apenas a Prefeitura de São Paulo— e ainda ampliou sua base de seguidores nas redes.
Por enquanto, as falas de Malafaia em defesa de Tarcísio têm sido respeitosas. Mas ele e Marçal têm personalidades explosivas, e o ex-coach pode reacender o conflito —anterior a 2024—, levando o pastor a buscar outro nome da direita para apoiar.
Para Marçal, o envolvimento com a campanha de Flávio é vantajoso. Se tiver liberdade para atuar, tende a radicalizar a comunicação. Se der sinais de que pode alterar a percepção sobre a viabilidade eleitoral de Flávio, pode se apresentar como um "salvador" da direita.
Se Flávio vencer, Marçal passa a ter acesso direto à Presidência e
acumula uma dívida de gratidão de Bolsonaro —que, neste momento, tem
pouco a perder.
FOLHA




