O que diz o plano:
- fim da guerra e cessar-fogo definitivo;
- todos os sequestrados israelenses liberados em até 72 horas;
- liberação de 250 presos palestinos com condenações severas (prisão perpétua e pena de morte) e outros 1800 detidos após o 07/10;
- retirada das forças israelenses por etapas para próximo à fronteira, sem desfazer as linhas estabelecidas pelos militares até segunda ordem;
- indulto a membros do Hamas que concordarem em renunciar à luta armada;
- exílio seguro para líderes do Hamas;
- o Hamas não exercerá nenhuma função no controle de Gaza;
- Gaza será governada primeiramente por um governo internacional chefiada por Tony Blair, e a Autoridade Palestina assumiria o controle após reforma interna.
- força militar internacional em Gaza;
- Israel não anexará nenhum território em Gaza;
- gazenses não serão expulsos - os que desejarem sair, poderão retornar quando quiserem.
- será estabelecido um caminho para o diálogo em busca da criação de um Estado palestino.
O "Plano dos 21 pontos" não tem referências diretas ao desarmamento do Hamas, algo que Netanyahu vinha apresentando como condição básica para o cessar-fogo. Além disso, no pronunciamento feito pelos dois (sem perguntas de jornalistas), ele negou ao menos um ponto do plano
Explicitamente, Netanyahu negou que a Autoridade Palestina terá qualquer ingerência sobre a administração de Gaza, afirmando que uma outra força palestina deveria emergir para substituir o Hamas no controle da região. Não é essa a proposta.
Uma fonte do Hamas disse à Al Jazeera que o grupo ainda não teve acesso à proposta, mas pelo que escutou parece semelhante com a proposta israelense - da qual o Hamas discorda. Não há muito espaço para otimismo
Por outro lado, caso o desarmamento do Hamas não seja uma condição pré-estabelecida, há espaço para que os dois lados joguem com esse vácuo. O Hamas pode alegar que não se curvou à demanda israelense, e Netanyahu pode dizer que.caso o Hamas mostre que segue sendo uma força militar relevante na região, tem salvo conduto para atacar novamente - como faz com o Hezbollah no Líbano, mesmo após o cessar-fogo. Isso após trazer os sequestrados de volta.
Me parece evidente que o Hamas não concordar com nenhum plano que os elimine como alternativa de poder em Gaza. Se a exigência for de fato essa, não há chance nenhuma de acordo. O Hamas não aceitará a sua aniquilação
Por outro lado, Netanyahu não aceitaria nenhuma proposta que ele não possa apresentar como uma vitória sobre o Hamas, sobretudo após a narrativa que ele construiu em Israel e a justificativa que ele dá internamente para seguir com uma ofensiva impopulaR
A única maneira de que vejamos um cessar-fogo nessas condições, é se essa for uma exigência intransigente de Trump. Neste caso, Netanyahu não teria como se opor, e precisaria construir uma narrativa em cima do acordo estabelecido - repleta de falsidades, como de praxe
Por mais que Trump ameace dar carta branca para que Netanyahu aniquile o Hamas em caso de recusa, todos nós sabemos que este é um objetivo inalcançável por meios militares. Por isso, não há pressão que faça o Hamas aceitar seu extermínio.
Se Trump estiver de fato disposto a impor o cessar-fogo em Gaza, o acordo pode acontecer. A julgar pela quantidade de vezes que o cessar-fogo ~quase~ saiu, eu me dou o direito de duvidar de mais uma vez. Espero que meu ceticismo seja contrariado