Sem chão, EUA vivem sob Trump uma rotina de desenho animado
JOSIAS DE SOUZA
Com a insanidade em alta, a economia em baixa, o Congresso inerte e o Judiciário desafiado, os Estados Unidos como que perderam o chão. Sob a presidência de uma caricatura imperial, o país vive uma rotina de desenho animado. Nele, Trump é o coiote. No papel de Papa-Léguas, a nação demora a perceber que caminha sobre o vazio. Evita olhar para baixo. Não se dá conta de que pode se esborrachar no chão a qualquer instante. Trump pode ignorar a Constituição. Mas ainda não revogou a lei da gravidade.
Os Estados Unidos estão sob ataque. Um ataque inédito, deflagrado desde a Casa Banca. Cada nova declaração de Trump é um míssil que atinge os pilares sobre os quais estão assentados os valores e a prosperidade do país. Na sua penúltima investida, o imperialista laranja disse numa entrevista que não sabe se deve respeito à Constituição americana.
Questionado pela apresentadora Kristen Welker, da rede NBC News, sobre se acredita que deve respeitar determinações constitucionais, Trump pronunciou um singelo "não sei". A apresentadora quis saber se os cidadãos americanos e os estrangeiros merecem o devido processo legal, como prevê a Constituição. E Trump: "Não sou advogado. Não sei".
Dissipou-se qualquer tipo de dúvida sobre o instinto ditatorial de Trump. O que deveria unir os Estados Unidos no momento é o fato, cada vez mais inegável, de que a nação está sendo violentamente atacada pelo seu próprio presidente. Se ainda houver uma réstia de amor-próprio, a sociedade americana deve esquecer suas diferenças para se concentrar nesta verdade nua e crua: os Estados Unidos foram convertidos numa zona de guerra. E Trump promove disparos diários.
Na mesma entrevista, Trump declarou que não considera a hipótese de se candidatar para um terceiro mandato. "Isso não é algo que eu esteja buscando fazer." Nesse ponto, o entrevistado desdisse a si mesmo, pois desde que retornou ao trono já declarou várias vezes que um novo mandato faz parte dos seus planos.
UOL
Em março, Trump afirmou que "não está brincando" sobre o fato de desejar um novo ciclo no Poder. A Constituição proíbe o terceiro mandato. Mas essa não é uma questão relevante para um autocrata que decide quais artigos do texto constitucional merecem ou não ser respeitados. Do mesmo modo, a sociedade americana já deveria ter notado que apenas as ameaças de Trump devem ser levadas ao pé da letra, não os seus recuos cínicos.


