Fotos raras de 1964 mostram tanques na rua, incêndio da UNE e violência contra civis
Livro editado pelo Senado recupera imagens pouco conhecidas do golpe militar
Bernardo Mello Franco
Rio, 1° de abril de 1964. Apoiadores do golpe incendeiam a sede da União Nacional dos Estudantes.
Lançado nesta segunda-feira pelas Edições do Senado, o livro "1964: Imagens de um golpe" resgata imagens raras da tomada do poder pelos militares há 61 anos. As fotos desmentem a versão de que o golpe não teria enfrentado resistência na sociedade.
"Houve resistência. O que faltou foi liderança para organizá-la", diz a historiadora Heloisa Starling, da UFMG, que organizou o novo livro com Danilo Araujo Marques e Livia de Sá Baião.
A obra reúne 71 imagens, entre fotos, fac-símile de publicações e itens de acervo, Uma das curiosidades é uma flâmula da Liga da Mulher pela Democracia, entidade que reunia senhoras católicas favoráveis ao golpe.
Na época, parte das fotografias foi publicada na imprensa com versões favoráveis à derrubada do governo João Goulart. É o caso do flagrante da coronhada no Recife.
A foto de Rubens Américo mostra a truculência de militares contra um civil desarmado. Ao publicá-la, na edição de 25 de abril de 1964, a revista O Cruzeiro afirmou que a violência "foi episódica".
Para justificar a agressão, a legenda da foto descreve o agredido como um "agitador" que "insuflava e provocava as tropas".
A revista, que na época era a mais influente do país, não disfarçava a simpatia pelos golpistas. Em perfil laudatório, o general Castello Branco, primeiro presidente da ditadura, é apresentado como "o cérebro da Revolução".
O livro com fotos do golpe será lançado nesta segunda em seminário no Senado. Também serão reeditados os clássicos "1964 visto e comentado pela Casa Branca", do jornalista Marcos Sá Corrêa, e "Sessenta e quatro: Anatomia da crise", do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos.
GLOBO