Ah, a masculinidade
MANUELA D'AVILA
Em
mais um espetáculo da política da extrema-direita, Javier Milley,
presidente da Argentina, presenteou Elon Musk — o bilionário que sonha
em Marte enquanto demite na Terra — com uma motosserra. Sim, uma
motosserra. Nada de um livro, um tango ou um bom vinho argentino. O
presente escolhido foi um motor barulhento e cortante, o “símbolo do
combate à burocracia”.
Ah, a masculinidade! Sempre tão
previsível, carente de sutilezas. Porque, claro, nada representa melhor a
luta contra a burocracia do que uma máquina feita para destruir. Uma
ferramenta ruidosa, potente e penetrante — perfeita para quem precisa
provar que tem “ferramentas” para liderar. Afinal, no fundo, é sempre
sobre isso.
A imagem é clara: “Aqui está, Elon, uma extensão do
meu ego. Corta florestas, direitos e o que mais for preciso, desde que
faça barulho e pareça revolucionário.” Um símbolo de poder bruto,
mecânico e vazio.
E o toque final de ironia? Musk, o profeta das
tecnologias limpas, recebe um presente movido a gasolina. O futuro, para
Milley, cheira a fumaça e serragem. Uma motosserra para “cortar a
burocracia”? Ou para desmatar qualquer traço de Estado e dignidade
social? Se a burocracia for obstáculo, por que não devastar tudo?
No
fim, o presente revela mais sobre Milley do que sobre Musk. Quem tem
poder real, tem suas próprias ferramentas. Quando não se tem, resta o
barulho. E a motosserra.