Trump enterra meta da ONU para conter mudanças climaticas
LEONARDO SAKAMOTO
Ao tomar posse como o 47º presidente dos EUA, Donald Trump pôs por terra os atuais esforços globais para limitar os impactos das mudanças climáticas ao prometer apoio total à exploração, ao uso e à exportação de petróleo e gás. Para isso, prometeu também combater leis ambientais e a prioridade a carros elétricos, política do governo Joe Biden.
Nenhum plano de mitigação do aquecimento global é possível com a nação mais rica do planeta jogando deliberadamente contra. Se já estava difícil, com o quadro atual, atingir a meta de restringir o aumento da temperatura global a 1,5ºC em relação ao início da era industrial, como proposto pelo Acordo de Paris, agora esse objetivo foi enterrado. Se conseguiremos conter em 2ºC, 3ºC ou 4ºC, só o tempo vai dizer. Mas isso coloca o mundo em rota de mudança definitiva da vida humana.
Contraditoriamente, ele afirmou que seu governo vai garantir assistência às populações de estados atingidos por desastres, como os incêndios na Califórnia neste ano. Omitiu que a intensidade e a frequência de eventos climáticos extremos estão diretamente relacionadas ao aquecimento da temperatura média do planeta. Entre outros motivos, por estarmos queimando petróleo e gás.
As tragédias acontecem e, assim como o discurso de Trump, não se faz conexão entre uma coisa e outra. É capaz, como me comentou um observador privilegiado sobre debate do clima, que se culpem imigrantes trans pelos desastres e não a economia com base em carbono.
Trump é um negacionista-raiz, mas é apoiado por uma série de negacionistas-light. A diferença é que estes afirmam que acreditam no aquecimento global, mas defendem que dá tempo de salvar o planeta sem criar problemas para a exploração de petróleo.
Todos os que batalham para, pelo menos, mitigar as mudanças climáticas, acreditavam que, quando a água chegasse ao pescoço e o fogo batesse à porta, os negacionistas votariam de forma diferente. Por aqui, o resultado das eleições do ano passado no Rio Grande do Sul das enchentes, por exemplo, mostrou que não. A realidade fática e cientificamente comprovada importa cada vez menos. O que valem são as narrativas. É nesse contexto que Trump irá governar.
UOL