Condenação de Fatima de Tubarão vai desmentir fake de Bolsonaro sobre 8/1
LEONARDO SAKAMOTO
A virtual condenação de Fátima, de Tubarão (SC), por golpe de Estado, abolição democrática do Estado Democrático de Direito, associação criminosa armada, deterioração do patrimônio tombado e dano qualificado, irá desmentir Jair Bolsonaro
.O ex-presidente tem dito e repetido
que o 8 de janeiro de 2023 não teve caráter golpista porque foi
organizado por “senhorinhas com uma Bíblia debaixo do braço e
senhorzinhos com a bandeira do Brasil nas costas”. Ignorando as imagens,
ele afirma que a massa era de manifestantes ordeiros, e os responsáveis
pela invasão e depredação das sedes dos Três Poderes eram alguns
petistas infiltrados.
O caso de Fátima Mendonça Jacinto Souza, que
ficou famosa ao ser presa na terceira fase da Operação Lesa Pátria, da
Polícia Federal, mostra, contudo, que isso não é verdade. Vestida com
uma bandeira do Brasil, ela é exaltada em um vídeo gravado pelos
próprios golpistas por estar “quebrando tudo”. No que responde: “Vamos
para a guerra, vou pegar o Xandão agora!”, em referência ao ministro do
STF Alexande de Moraes.
Dona Fátima foi convencida de que estaria em uma cruzada, narrativa que foi bombardeada pelos formuladores do bolsonarismo. Mas, ao contrário do que aconteceu com os quatro cavaleiros do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, a “guerra” perdida que travou em Brasília não a absolveu de seus pecados pregressos.
Antes do envolvimento nos atos golpistas, ela já havia sido condenada por tráfico de drogas (crack), usando jovens menores de idade, em 2014. Também tentou fraudar o INSS e usou documentos falsos. Nas redes, defendia o voto impresso e criticava a urna eletrônica, repetindo as palavras do “mito”. Uma mulher de bem.
Claro que nem todos as senhorinhas golpistas tinham a capivara de Fátima. Mas ao insistir que as depredações do 8 de janeiro foram executadas por lulistas e petistas infiltrados, Bolsonaro ofende profundamente não apenas a razão e a realidade, mas o seu próprio rebanho.