Vou passar o feriado maratonando Paul Auster
LILIA SCHWARCZ
Conheci o escritor Paul Auster quando ele veio à Flip. Lindo, com um jeito sempre irônico de falar, rosto de galã de filme francês, um cigarro na boca, uma risada rouca e forte, ele era sempre o centro das atrações em qualquer roda que se formasse.
A essas alturas eu já havia lido seu maravilhoso “A noite do oráculo”. O livro tem algo de biográfico, sendo seu próprio filho um personagem dramático da obra. Cheia de suspenses e ambiguidades, com um estilo direto e quase seco, a literatura de Austen é toda feita de imprevistos, fracassos e desastres também. O livro mexeu comigo.
Pois, mesmo sabendo que andava doente, não consigo acreditar que acaba de falecer Paul Benjamin Auster. Ele tinha 77 anos e sofria com um câncer no pulmão. Li também “O Livro das Ilusões” e “A Música do Acaso”. Escreveu a trilogia de NY que se completava com os livros: “Quarto escuro”, “Cidade de vidro”, “Fantasmas” Você nunca mais passará pela cidade de Ny da mesma maneira depois de ler Auster.
Paul Auster era também exímio tradutor. Em 1970 ele pede licença na Universidade de Columbia e vive durante quatro anos na França. A sua proximidade com a literatura francesa ficaria marcada para sempre. Foi confesso admirador de André Breton, Paul Éluard, Stéphane Mallarmé, Sartre e Blanchot, alguns dos quais traduziu para a língua inglesa.
Costumava aconselhar jovens escritores a traduzir poesia para entendessem melhor o sentido profundo das palavras. Além destes autores, Paul Auster citava ainda como suas grandes influências: Dostoiévski, Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Faulkner, Kafka, Hölderlin, Samuel Beckett e Marcel Proust.
Vivia no Brooklyn, Nova Iorque, com a sua mulher, (a excelente escritora e crítica de arte) Siri Hustvedt. Um autor como ele fica na história, junto com seus livros e traduções que nunca foram mais atuais. Vejo Auster em cada um dos parágrafos, em cada quebra de sentença, em cada situação que cria. Muita pena nos deixar assim cedo. Corre pra ler! Quero passar o feriado relendo e maratonando Paul Auster.