Mundo Fantasmo: 5052) Papai está falando sozinho
"Era uma turma alegre, estávamos conversando na mesa de um bar, cedinho da noite. De repente, um celular sobre a mesa acendeu e vibrou. Um dos meus amigos atendeu, foi até a porta em busca de melhor sinal. Voltou apressado, jogou na mesa duas ou três notas amassadas, sem nem olhar, como fazem os americanos nos filmes. “Já vai?”, perguntei. E ele, afastando-se, por cima do ombro: “Papai caiu.”
Na vida dos adultos jovens surge muitas vezes esse período que pode ser chamado “a Era de Dâmocles”. (Dâmocles era aquele grego que mandava botar uma espada pendurada sobre a cabeça dos convidados.) A espada pode cair a qualquer instante. “Papai” leva uma queda, se machuca um pouco ou nem tanto, precisa ser levado não sei onde, recebe cuidados, curativos, admoestações. E tudo volta ao normal.
Até o dia em que noutro bar, noutra festa, noutra reunião de trabalho, brota a mensagem seguinte: “Papai caiu de novo”.
É a vida, não é mesmo? Porque uma coisa é cuidar de um bruguelo ou de uma pirraia de fraldas, que bambeia e desaba por cima da quina mais próxima, abre o bué, mas com meia hora de panacéias e carinhos nem se lembra do acontecido. E outra coisa é cuidar de um latagão ou de uma matrona cuja mente tem sempre metade da idade do corpo, e quer continuar a conviver com escadas, chuveiros, prateleiras de cima.
Existe outro momento, contudo, também digno de atenção, e este às vezes vem antes.
“Papai está falando sozinho.”"
leia mais na cronica de Braulio Tavares:
Mundo Fantasmo: 5052) Papai está falando sozinho (15.4.2024)