Flotilha para Gaza (1)
Uma coalizão de organizações e ativistas de mais de 30 países, a Flotilha da Liberdade, que há 14 anos realiza expedições marítimas com ajuda humanitária, partirá de Istambul com o objetivo de desafiar o bloqueio israelense na Faixa de Gaza e levar 5 toneladas de alimentos e remédios ao povo palestino.
“Todas as mais de mil pessoas que estão aqui têm a sorte de participar de algo que entrará para a história, mas elas não estão sozinhas. É sabendo que milhões de pessoas estão em coração com a gente que me comprometi a fazer um diário de toda a jornada. Uma alegria que foi abraçada pelo ICL, um dos veículos mais dedicados desde o início a cobrir e denunciar a catástrofe que está ocorrendo contra o povo palestino em Gaza”, afirma Thiago Ávila, profissional de Relações Internacionais que irá representar o Brasil.
Israel mantém Gaza sob ocupação militar desde 1967 e sob cerco total desde 2007. Isso significa que qualquer criança de 0 a 17 anos (a maioria da população de Gaza está nessa faixa etária) nunca viveu um dia em liberdade.
As restrições impostas por Israel mesmo antes de outubro de 2023 impediam a entrada de itens essenciais como equipamentos médicos, alimentos (que ultrapassasse um cruel cálculo de calorias para cada pessoa, mas ainda mantendo a insegurança alimentar), materiais escolares e até itens como vestidos de noiva, chocolates e óculos de mergulho.
“A fome está sendo utilizada por Israel como uma arma de guerra. Na história recente, a situação que o povo de Gaza enfrenta só é comparável à situação que duas regiões da Somália passaram em 2011 e em partes do Sudão do Sul em 2017, com a diferença de que em Gaza hoje toda a população está sendo submetida a esse crime contra a humanidade”, afirma Thiago Ávila.
As restrições, que já faziam organizações denunciarem Israel por transformar Gaza na “maior prisão sem teto do mundo” pioraram muito após outubro de 2023, quando o ministro da Defesa, Yoav Gallant, declarou que os palestinos em Gaza ficariam sem água, sem comida, medicamentos ou eletricidade como punição coletiva após os ataques de 7 de outubro.
“Nós estamos enfrentando animais humanos e agiremos de acordo”, afirmou o ministro quando fechou totalmente as passagens para ajuda humanitária de Israel, além do cerco marítimo e aéreo e o controle que detém sobre a fronteira de Rafah, que separa o Egito do sul de Gaza.
“Antes da intensificação do cerco, 500 caminhões entravam diariamente em Gaza com ajuda humanitária e já existia insegurança alimentar. Há quase 200 dias Israel restringiu a entrada para 0 a 200 caminhões diários, sendo a média dos últimos dias de 181 caminhões. O que já era um campo de concentração, se tornou um campo de extermínio, com mais de 34 mil pessoas assassinadas, entre elas mais de 14 mil crianças, e com a fome se tornando um risco de morte ainda maior que as bombas de Israel”, afirma Ávila.
Diante da intransigência de Israel, alguns países começaram a realizar entregas aéreas, porém com alcance limitado. Esse método é mais caro, perigoso (pessoas já morreram esmagadas ou afogadas, quando caem no mar) e serve mais para manobras de relações públicas de governos que querem aparecer como solidários à catástrofe humanitária palestina.
Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, por exemplo, principal aliado estratégico de Israel e maior fornecedor de armas, segue enviando bilhões de dólares em ajuda militar incondicional, mas faz entregas aéreas de comida para diminuir o impacto sobre a opinião pública estadunidense em período eleitoral.
“Quando os governos falham, as pessoas comuns precisam dar um passo à frente. A Flotilha da Liberdade denuncia a inação dos governos e organismos internacionais para deter o genocídio. O que essas mais de mil pessoas estão fazendo colocando suas vidas em risco era papel dos governos e organismos multilaterais internacionais. Mas, se os governos não fazem, as pessoas comuns terão que deter o genocídio contra o povo palestino através de seus próprios meios”, aponta Ávila.
Ele afirma que os ativistas da Flotilha estão colocando suas vidas em risco “para cumprir uma decisão da maior instância jurídica mundial, que Israel ignora para manter o genocídio e os governos do mundo não fazem o suficiente para impedir.
Quem tem consciência e humanidade não pode silenciar diante da maior violação de direitos humanos de nossa geração, e precisa empenhar seus melhores esforços para interromper essa catástrofe”, ressalta.
“As medidas preliminares do Tribunal Internacional de Justiça ordenadas contra Israel são muito claras”, comenta Ismail Moola, da Aliança de Solidariedade à Palestina da África do Sul, parte da Coligação da Flotilha da Liberdade. “A decisão do tribunal exige que o mundo inteiro desempenhe o seu papel para impedir o genocídio que se desenrola em Gaza, incluindo o acesso desobstruído a ajuda vital.”
A Flotilha da Liberdade (ou Freedom Flotilla Coalition — FFC) é uma
coligação internacional suprapartidária de campanhas que defendem a
liberdade e os direitos humanos. As expedições acontecem desde 2010 com o
objetivo de quebrar o bloqueio a Gaza, em solidariedade com os gritos
dos palestinos por liberdade e igualdade.
ICL NOTICIAS