Castigo pra corno
Arnaldo Branco
O fim do namoro de um mês e meio da cantora Luísa Sonza com o streamer Chico Moedas foi o assunto mais comentado de uma semana em que o direito ao casamento homoafetivo esteve sob ataque e o STF julgou o Marco Temporal — mas mesmo assim todo mundo ficou no twitter agradecendo ao governo Lula pela oportunidade de gastar tempo com um caso de chifre em vez de com coisa séria. Dizem que o preço da liberdade é a eterna vigilância mas pelo jeito a galera tá sem trocado.
Mas calma, eu não vou engrossar o coro do povo que ficou cobrando mais ativismo e menos fofoca, como se rede social fosse lugar de fazer alguma coisa útil pela sociedade. Assim como todo mundo que não tem síndrome de Mahatma Gandhi fiquei fascinado pelo caso, que foi muito bem resumido pelo meu colega de newsletter João Luis Jr:
Todo esse aparato para a leitura de um texto com cara de desabafo bêbado e que bem poderia ter aproveitado o serviço de um revisor deixa a gente desconfiado de que tudo — a hiper divulgada aproximação amorosa do casal, o lançamento de uma canção sobre o namoro e esse final ao mesmo tempo patético e apoteótico — fazia parte de uma ação de marketing para vender um possível disco de separação, uma tradição no mercado fonográfico como os acústicos já foram um dia.
A gente está bem escaldado por todas as vezes em que lotamos o bonde da indignação pra condenar um post equivocado de alguma celebridade e logo depois descobrir que aquilo era só o teaser da campanha de um patrocinador. Hoje em dia é mais difícil repetir o truque.
Mas se houve alguma verdade nesse affair que envolveu umas vinte entrevistas em podcasts, um hit no Spotify e um banheiro de boteco, aprendemos que 1) não existe nenhuma vantagem em fazer alarde de um namoro que mal começou e que só emplacou depois de vários lances de intimação e hesitação entre as partes 2) um homem prefere enfrentar o fandom de uma das cantoras mais populares do país do que ter uma DR para admitir que talvez fosse muito cedo pra assumir o relacionamento.
No fim das contas tudo isso só serviu pra aumentar a fama de trambiqueiro emocional do carioca e convocar pela milionésima vez o debate sobre a possível criminalização da monogamia.
E, claro, para lembrar que pode haver uma relação entre essa exibição performática de adultério e o acordo que arquivou o processo de injúria racial contra a cantora, curiosamente fechado um dia antes do choro em cima de uma gigantesca cuca de banana no programa da Ana Maria Braga.
Aí é como diz a sabedoria popular: todo castigo pra corno é pouco e fogo nos racistas.
CONFORME SOLICITADO
https://conformesolicitado.substack.com/i/137171036/castigo-pra-corno