Se hacker provar o que disse, Bolsonaro vai em cana e leva generais junto
LEONARDO SAKAMOTO
Se o depoimento do hacker Walter Delgatti Neto à CPMI dos Atos Golpistas for embasado com provas e documentos e não ficar só no gogó, não apenas Jair Bolsonaro deve passar um longo período no xilindró por conspirar contra a democracia, como levará consigo alguns que passaram pela cúpula das Forças Armadas.
Delgatti afirmou que visitou o Ministério da Defesa em cinco ocasiões após ouvir em reunião de uma hora e meia com o então presidente da República um pedido para ele encontrar uma forma de atacar as urnas e tirar a credibilidade do sistema eletrônico de votação.
Segundo o hacker, ele chegou a se reunir com general Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da pasta. Reconheceu que não era possível invadir o sistema de totalização ou mudar o código-fonte da urna de forma remota. Mas alimentou militares.
Em depoimento à Polícia Federal após ser preso em 2 de agosto, Delgatti já havia dito que orientou o relatório das Forças Armadas sobre o processo eleitoral de 2022. "Tudo o que foi colocado no Relatório das Forças Armadas foi com base em explicações do declarante", aponta um trecho. Agora, reforçou isso na CPMI.
A declaração é gravíssima, pois o trabalho da tal comissão técnica do Ministério da Defesa que estava "fiscalizando" as eleições foi usada por Jair contra o próprio sistema eleitoral. E o tal relatório estimulou o movimento golpista que desaguou no 8 de janeiro. Apesar de não conseguir provar fraude, disse que também não conseguiu provar que ela não ocorreu - uma falácia tosca.
Bombado pelas redes bolsonaristas, o relatório ajudou os golpistas a permanecerem mobilizados em frente às portas dos quartéis e em estradas. Entre os depoimentos de golpistas presos, há aqueles que dizem que foram a Brasília para tentar ver o "código-fonte".
Confirmado que Walter Delgatti Neto foi fundamental para o relatório em questão, e lembrando que ele foi incumbido pelo então presidente de atacar as urnas eletrônicas, temos mais uma confirmação de que membros da cúpula militar atuaram ao lado de Jair contra a democracia. E precisam ser punidos de acordo com a lei.
UOL