O agro não poupa ninguém
" Não é porque eu sou da roça que eu não rodo no asfalto/ eu posso até andar de car- ro, mas prefiro o meu cavalo/ não é por- que eu gosto de bota que eu não posso an- dar de salto/ eu gosto do cantar do galo, mas prefiro som no talo/ DJ, essa batida tá espetacular, canta Castela, em um trecho da música Néon.A boiadeira é o carro-che- fe da Agroplay, produtora do Paraná que a descobriu e a lançou no mercado da mú- sica. A empresa desenvolve seu trabalho com um claro direcionamento ideológico na sua produção artística. Os jovens can- tores patrocinados emprestam sua voz e carisma para vocalizar uma “realidade” que tende a conquistar mentes e corações em prol do campo. Os próprios sócios da Agroplay, Raphael Soares e Rodolfo Alessi, são cantores sertanejos e autores de músi- cas ufanistas em relação ao agronegócio. Canções como Hino Agro ou A Roça Venceu mostram não apenas um cam- po promissor, mas rivalizam com a cida- de grande, tentando se mostrar superio- res aos grandes centros, uma guerra cul- tural entre agroboys e playboys.
A pesqui-
sadora Ana Manoela Chã, autora do livro
Agronegócio e Indústria Cultural – Estra-
tégias das Empresas Para a Construção da
Hegemonia, explica que a modernização
do campo foi transportada para a comu-
nicação, seja na publicidade, seja nos pro-
gramas televisivos ou na música. “As raí-
zes caipiras que tinham inspiração num
interior bucólico e atrasado foram perden-
do espaço para um campo que se tecnifi-
cou. Se a gente pode olhar para a agricul-
tura como um grande show, com maqui-
nários, grandes extensões de plantações
da mesma cor, com desenhos que podem
ser vistos de avião e que têm formas geo-
métricas curiosas, o sertanejo trouxe is-
so também para a música, essa coisa ele-
trificada do grande show que hoje se faz
dentro da plantação de milho transgêni-
co. Do ponto de vista cultural, o agronejo
se apresenta como um porta-voz do agro.” "
LEIA REPORTAGEM DE FABIOLA MENDONÇA