There's a starman waiting in the sky. He'd like to come and meet us, but he has travesseiros pra vender
É preciso um certo esforço para se destacar num grupo tão variado e absurdo quanto aquele formado pelo antigo governo bolsonarista, um grande catadão que envolvia pessoas oportunistas, pessoas malucas, pessoas de péssimo caráter e pessoas oportunistas, malucas e de péssimo caráter. E claro, filhos da puta. Assim, vários filhos da puta.
Nós temos o ex-presidente genocida que oferecia remédio pra ema e tenta encaixar em todas as conversas o fato de que ele não broxa, o que transmite a sensação de que ele broxa bastante; temos o ex-ministro da economia que parecia estar preso num teste para o papel de Caco Antibes num reboot de "Sai de Baixo" financiado pela FGV; nós tínhamos desde assessores que guardavam pauta impressa de golpe na gaveta de casa até militares que negam em juízo que apoiaram o golpe enquanto estão de frente pra registros telefônicos deles apoiando o golpe.
Em suma, é sim uma galerinha do barulho.
Mas mesmo no meio desse grande jogo "Cara a Cara" em que a principal característica de todos os personagens é "ser um arrombado", poucas figuras conseguem ser tão fascinantes e emblemáticas pra mim quanto ele, o astronauta brasileiro Marcos Pontes.
Mas não pela sua capacidade de, por exemplo, conseguir sozinho e apenas com o próprio esforço, transformar em sinônimo de picaretagem algo que todo o complexo industrial e cultural norte-americano gastou décadas para associar com heroísmo, inteligência e admiração.
Afinal, nos filmes os astronautas saem da Terra para descobrir novos planetas, realizar descobertas científicas, às vezes até mesmo explodir um asteroide que está vindo na direção do planeta - mas apenas nos filmes em que isso não é realizado por profissionais de mineração. Já Marcos Pontes saiu da Terra, numa missão caríssima, literalmente fez experiências com feijãozinho no espaço, voltou pro planeta e, quando esperavam que ele fosse transmitir tudo que aprendeu, deu entrada na aposentadoria com 43 anos e virou coach. Sim, um pequeno passo para a ciência brasileira mas um grande salto em termos de nunca mais trabalhar.
E também não é por, como se não fosse pouca coisa danificar a reputação da categoria profissional "astronauta", Marcos Pontes fazer questão de aceitar o convite para ser ministro da Ciência e Tecnologia no governo Bolsonaro, o equivalente a ser, por exemplo, coordenador de veganismo na Churrascaria Fogo de Chão ou responsável pela Turma do Deixa Disso no UFC 555 realizado dentro de um ônibus quebrado na Avenida Brasil.
E também não é pelo fato de que, quando no cargo, ele não apenas não se posicionou de maneira alguma em defesa da ciência, participando da exoneração do então Presidente do INPE Ricardo Galvão, como ficou afastado durante 33% dos seus dias de trabalho, e tornou o ministro que mais circulou durante o governo, com 107 viagens internacionais, levantando a possibilidade de que Marcos Pontes nem gostava muito desse lance de espaço, ele apenas viu uma possibilidade de viajar de graça pra algum lugar e abraçou.
Mas isso também não é o pior, assim como não é o pior o fato de que ele, depois de sair do governo e voltar a ser coach, estava vendendo em seu site pacotes turísticos para visitar os destroços do Titanic – o mesmo tipo de passeio que não deu tão certo pra uma galera aí recentemente.
Não, pra mim o pior, o que realmente me quebra em relação ao Marcos Pontes, é o fato de que no “travesseiro da NASA”, do qual ele é garoto-propaganda, a sigla NASA, não diz respeito a “National Aeronautics and Space Administration”, mas sim a, e não estou de sacanagem, “Nobre e Autêntico Suporte Anatômico”. Nobre e autêntico, irmão. Porque os caras nem podiam se dar ao trabalho de ao menos pensar em uns termos que ao menos soassem científcios, tipo “Novo e Avançado”, “Nosográfico e Atômico”, “Neurológico e Autóctone”. Não, nada disso. Os caras tinham que meter “Nobre e autêntico.”
Depois os brasileiros passam a torcer pra nave espacial explodir e ninguém sabe por que.
posted by Ricky at 21:25
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