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    quinta-feira, abril 20, 2023

    Quem nao faz, leva

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    JOSIAS DE SOUZA

    : Deu-se o inimaginável: de estilingue, o governo Lula conseguiu a proeza de passar à condição de vidraça no caso do 8 de janeiro. O Planalto caiu de ponta-cabeça no centro de uma CPI do Golpe tramada por bolsonaristas que deveriam temer as investigações. Deve-se o paradoxo à divulgação de um vídeo que exibe o general Gonçalves Dias, responsável pela segurança da Presidência, circulando no meio dos invasores da sede do governo.

    Em vez de dar voz de prisão aos vândalos golpistas, Gonçalves Dias, velho amigo de Lula, abriu portas e indicou rotas de saída, pela escada, no andar do gabinete presidencial. Lula viu-se compelido a fazer por pressão o que deixou de realizar por opção. Com 101 dias de atraso, empurrou o general que havia acomodado na chefia do GSI, Gabinete de Segurança Institucional, para fora do Planalto pela porta de incêndio.
     
    A CPI que o governo tentava evitar tornou-se incontornável. Lula teve a oportunidade de avalizar uma investigação parlamentar conduzida por seus apoiadores no Senado. Preferiu travar a iniciativa. Agora, terá que se equipar às pressas para lidar com uma CPI mista proposta pelo deputado bolsonarista André Fernandes. Esse parlamentar é um dos investigados no inquérito do Supremo Tribunal Federal sobre o Capitólio brasiliense. É acusado de incentivar a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.
     
    Nas pegadas do 8 de janeiro, Lula havia declarado que as portas do Planalto foram abertas para os invasores. Agora, verifica-se que o próprio presidente ofereceu material para que a oposição invada o seu governo, explorando a mentira segundo a qual a tentativa de golpe foi obra de petistas uniformizados de verde e amarelo para incriminar Bolsonaro.
     
    Em política, todo o mal começa com as explicações. Tudo o que precisa ser explicado não é bom. Revelou-se premonitório um prognóstico feito há mais de três meses pelo senador Renan Calheiros, aliado do governo. em matéria de CPI, como no futebol, "quem não faz leva."
     
    Lula terá que lidar nos próximos dias com algo que pode ser chamado de Efeito Ucrânia. Dias atrás, Lula disse: "A decisão da guerra foi tomada pelos dois países." Soou como se achasse que a invadida Ucrânia tem culpa pela invasão do seu território por tropas da Rússia. Agora, as circunstâncias colocam Lula, por assim dizer, dentro dos sapatos do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
     
    O vídeo que forçou Lula a retirar o general Gonçalves Dias do Planalto às pressas, pela porta de incêndio, forneceu o material que faltava para que o bolsonarismo sustente numa CPI do Golpe, agora inevitável, a tese segundo a qual o governo é cúmplice do 8 de janeiro. Lula e seus operadores terão de molhar a camisa para desmontar a versão fake segundo a qual o Planalto invadido pelos vândalos bolsonaristas é culpado pela invasão.
     
    As cenas que estão por vir são constrangedoras. Lula está impedido pelos fatos de alegar que foi surpreendido com a divulgação das imagens. Nelas, o general Gonçalves Dias, velho amigo do presidente, aparece na cena do crime abrindo portas e indicando rotas de saída para os criminosos que vandalizavam o Planalto.
     
    Em 12 de janeiro, quatro dias depois da intentona bolsonarista, Lula disse que assistiria a todas as imagens do quebra-quebra. Declarou que estava convencido de que houve conivência com os invasores. "A porta do Planalto foi aberta para essa gente entrar", afirmou na ocasião.
     
    Nos dias subsequentes, a Presidência afastou cerca de 80 militares responsáveis pela segurança do Planalto e do Alvorada. Foram exoneradas 34 pessoas lotadas no Gabinete de Seguramça Institucional. Mas o general Gonçalves Dias, que chefiava a repartição, foi preservado.
     
    O destino não muda o homem. Mas ele às vezes o envergonha. Para se livrar da fake news bolsonarista que o culpa pelo golpe que sofreu, Lula terá que se desdobrar para demonstrar que foi apenas incompetente, não cúmplice. Afastou o general inepto com 101 dias de atraso. ::
     
    UOL 

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