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    segunda-feira, abril 17, 2023

    O assunto do momento entre consumidores e estudiosos de cultura pop

     

     

    RAFAEL SENRA

    O assunto do momento entre estudiosos e consumidores de cultura pop em geral envolve a candidatura de Maurício de Souza para uma vaga na ABL. Um dos concorrentes resolveu enfiar o pé na jaca do ressentimento e dizer que “quadrinhos não são literatura”, fomentando uma nova rodada do fantasma onipresente em relação aos quadrinhos: a suposta inferioridade dessa forma de arte em relação à outras.
    Quando defendi meu doutorado (que discute, entre outros tópicos, a relação entre quadrinhos e literatura), incluí um capítulo que trazia um breve histórico dos quadrinhos. Alguém na banca questionou: isso é mesmo necessário? Afinal, ao longo de anos, quase todo trabalho acadêmico sobre quadrinhos traz esse panorama cronológico da história do meio. Já não seria a hora de presumir que a comunidade acadêmica tem uma noção suficiente sobre quadrinhos, e abrirmos mão desse espaço de rememoração em cada pesquisa...?
     
    Bem, graças ao ressentido da ABL, percebemos que anos e anos de exorcismo e de leituras do Umberto Eco não foi o suficiente: o fantasma está vivo. Talvez por isso eu hesitei em escrever sobre o assunto. Tudo isso me parece óbvio demais. Mas, se o governo neofascista anterior nos forçou a passar os últimos quatro anos tendo que escrever obviedades, é razoável respirar fundo agora e seguir com mais um debate.
     
    Em primeiro lugar, endosso a ideia de que quadrinhos não são literatura. Trata-se de uma linguagem artística com potencial expressivo à altura de qualquer outra forma de arte. Não é um meio que goza da legitimidade da literatura, mas isso diz mais sobre os vícios das nossas instituições do que sobre o meio dos quadrinhos. Recomendo ignorar esse pessoal que reza um terço para Harold Bloom toda noite antes de dormir, e, como antídoto, ler a fundo algumas pesquisas acadêmicas sérias sobre quadrinhos. Umberto Eco é a referência mais conhecida. Tem outras, e não sei se sou a pessoa mais indicada para traçar esse panorama, mas, citando aqui de cabeça: Thierry Groensteen, Bárbara Postema, Paul Gravett, Will Eisner, Scott McCloud. No Brasil: Paulo Ramos, Waldomiro Vergueiro, Nobu Chinen, Sonia Bibe Luyten, Moacy Cirne, Gonçalo Junior.
     
    “Ah, mas a literatura estimula a imaginação, enquanto os quadrinhos já trazem as imagens prontas”, diria um incauto (e o ressentido da ABL concordaria). Na verdade, tanto a literatura quanto os quadrinhos demandam um caráter de interatividade, um pacto entre leitores e autores, em que a obra se efetiva no momento em que a pessoa leitora usa da própria imaginação para dar vida à narrativa de fato (é uma explicação grosseira e informal que compartilho aqui, mas, enfim, é um post de facebook e não um ensaio). 
     
    Sobre texto versus imagem: nos quadrinhos, as imagens são parte de um código que exige leitura, tanto quanto o texto. Sem contar as inúmeras convenções próprias dos quadrinhos (onomatopeias, balonamento, iconologia). E o texto nos quadrinhos não possui o mesmo papel na literatura, pois ele deve reforçar e complementar o que as imagens mostram ou sugerem, o que torna tudo ainda mais lúdico e rico de significados. 
     
    Por outro lado, na literatura, precisamos considerar que o texto utiliza também funções imagéticas, que seriam as FIGURAS de linguagem (metáforas, metonímias, analogias, símiles, sinestesias, e muitas outras). Ou seja, o movimento e a dinâmica da narrativa precisam ser completados pelo leitor nas duas mídias, seja na literatura ou nos quadrinhos. 
     
    Vou parar por aqui antes que esse papo fique técnico demais. Apesar do que escrevi acima, o que importa ressaltar nesse texto nem tem tanto a ver com questões estruturais das duas linguagens artísticas (coisas que qualquer pesquisador sério já conhece), mas das questões institucionais. A ABL já aceitou antes como membros pessoas que ergueram carreiras em meios que não são especificamente literários. Ali tem cineastas, jornalistas, políticos, advogados. Ou seja, a lista de precedentes é enorme. Maurício de Sousa pode não ser o autor de quadrinhos mais virtuosístico, laureado ou respeitado, mas seu trabalho como artista e como formador de leitores merece esse reconhecimento.

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