Síndrome de Vítima

 LILIA SCHWARCZ

Vocês conhecem síndrome de vítima? É um caso famoso quando o algoz se faz de vítima.

Por que será que o ex-presidente Jair Bolsonaro não volta ao Brasil? Não será por nenhum ato de abnegação e patriotismo. Mas por puro egoísmo e covardia: não quer enfrentar os processos aos quais precisa responder.

Mesmo assim, no dia de hoje, ele falou com voz embargada durante longos 8 minutos, na abertura do PL mulher. Disse ele
que o Brasil vive hoje um "momento difícil" (não disse por quê?) e chorou ao falar que gostaria de estar no país. Uai: quem o impede?

Tudo isso aconteceu na cerimônia de posse de Michelle Bolsonaro no comando do PL Mulher, nesta terça-feira (21), em Brasília. E continuou ele com sua lenga lenga: “Obviamente que eu gostaria de estar presencialmente neste evento ao lado da minha esposa e da minha família. Mas a vida se faz de momentos felizes e tristes e tudo passa para ensinamentos para nós".

E ainda incluiu: “Por vezes temos que sofrer para darmos valor a aquilo que está ao nosso lado e por vezes nós desprezamos". Qual o sofrimento dele numa casa de luxo na Flórida e cercado de seguranças? Alguém me explica?

Por sua vez, Michele se negou a responder sobre o roubo das joias e disse que “mulheres são joias”. Sempre a partir de sua visão de “princesa”.

A ideia do PL (partido de Bolsonaro) é lançar Michelle como candidata, aproveitando de sua popularidade — agora testada por uma nova marca de cosméticos que criou, tudo em rosa.
Há quem ache que o casal é página virada na nossa história. Já eu ando de olho bem aberto. A história ensina que muitas vezes o vilão retorna. As vezes vestido de mulher.