O governo Lula trouxe de volta uma série de assuntos
ARNALDO BRANCO
Além da obsessão por picanha o governo Lula trouxe de volta uma série de assuntos que tinham desaparecido do noticiário. Vamos a eles:
Crime de responsabilidade
Bolsonaro cometeu tanto crime de responsabilidade nos últimos quatro anos que imagino uma reunião de pauta com os jornalistas discutindo se isso ainda poderia ser considerado notícia, tipo “Carlinhos Maia pede desculpa por fala polêmica”. Como nenhuma dessas denúncias deu em nada, tirando notas de repúdio em que ficou claro que os autores da nota não tiram o chapéu para crime de responsabilidade, acho que o pessoal acabou desistindo mesmo. Talvez tenha virado consenso que crime de responsabilidade é algo que só pode ser cometido por adultos responsáveis e rola isenção de acordo com o nível de imaturidade do presidente em exercício. Lula nunca teve e não vai ter essa moleza.
Crise econômica
Alguém vai pedir um aparte e afirmar que a crise econômica no Brasil nunca ficou tanto tempo ausente para fazer um comeback, meio como a dengue e o Iron Maiden. Mas a cobertura da crise às vezes faz parecer que ela tirou um sabático, como agora, durante a gestão Paulo Guedes, onde vários analistas conseguiam ver o lado do bom de PIB negativo e onde achavam atenuantes para notícias como “População faz fila para conseguir osso”. Mas tem ocasiões em que acontece o contrário e a imprensa joga luz sobre a crise como se ela fosse uma celebridade tentando fugir dos paparazzi. Quem se lembra da editoria “Apesar da crise”, que trabalhou dobrado no governo Dilma? Onde toda notícia boa era precedida por essa ressalva, como em “Apesar da crise, Mengão goleia Real Madrid na decisão do Mundial de Clubes”? (OBS: notícia falsa para mero fim de ilustração). E agora a crise econômica do governo Lula já está batendo recordes, pois segundo especialistas se instalou dois meses antes do próprio governo Lula começar.
Liturgia do cargo
Antes do Bolsonaro a imprensa sempre pedia respeito à liturgia do cargo, expressão que significa que um presidente deve parecer, como direi, presidencial, e foi cunhada pelo Sarney, então pra começo de conversa nem devia ser levada em consideração. Mas ela foi curiosamente aposentada durante a vigência de um chefe de estado que comia frango usando o próprio colo como bandeja de farofa e possivelmente ejaculou em um poltrona Sérgio Rodrigues. Deve voltar a ser usada agora para cobrar postura do presidente que não podia nem fazer uma festa junina.
Presunção da inocência
Depois de ficar super em baixa na época da Lava Jato, quando transformaram delação numa espécie de programa de milhagem pra bandido onde os pontos acumulados eram trocados por redução de pena, a presunção da inocência voltou com tudo. Agora você não pode nem insinuar que a justiça deveria fazer algo a respeito de crimes como prevaricação, peculato, conspiração, discurso de ódio e genocídio que vai aparecer comentarista falando em devido processo legal, que é preciso mais conciliação e menos revanchismo ou que qualquer investigação nesse momento pode melindrar os militares. Longe vão os tempos em que queriam condenar todo mundo (por todo mundo eu quero dizer políticos de esquerda) através da teoria do domínio do fato.
Mas o que o pessoal costuma esquecer é que a presunção da inocência não funciona muito bem quando surge uma montanha de provas contra o suspeito. E, como dizia Shakespeare, anistia é o caralho.
CONFORME SOLICITADO
https://conformesolicitado.substack.com/p/conforme-solicitado-24