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    segunda-feira, dezembro 12, 2022

    Tanto faz o que aconteça nos próximos jogos, esta já é a Copa de Marrocos

     

    Walid Regragui, técnico de Marrocos, é celebrado pelos jogadores
    Walid Regragui, técnico de Marrocos, é celebrado pelos jogadores Glyn KIRK / AFP



    Martín Fernandez

    Marrocos eliminou Bélgica, Espanha e Portugal e está na semifinal da Copa do Mundo de 2022. A Tunísia ganhou da França — e não me venham com o papinho de time reserva francês porque Mbappé, Griezmann e a cavalaria entraram no segundo tempo para tentar evitar a derrota, e não conseguiram. A Arábia Saudita bateu a Argentina de virada, com Messi em campo o tempo todo. E o Catar, bom, o Catar não ganhou de ninguém e terminou sua própria Copa do Mundo com a pior campanha de um anfitrião na história da competição, afinal nem tudo pode ser comprado. Mas o Catar permitiu que tudo isso acontecesse.

    A cena mais comovente dos 60 jogos disputados neste Mundial — ainda faltam quatro — se deu ao fim da partida entre Marrocos e Portugal, pelas quartas de final, na noite de sábado, no estádio Al Thumama, e não foi o choro de Cristiano Ronaldo no túnel, despedindo-se melancolicamente de sua última Copa do Mundo. A imagem da Copa, até que alguém ofereça o troféu aos céus no próximo domingo, mostra jogadores marroquinos ajoelhados na linha de fundo, em reverência à torcida que não parou de apoiá-los na jornada épica que resultou na primeira seleção africana e na primeira seleção de um país árabe a chegar tão longe numa Copa do Mundo — este prêmio que um dia foi alvo de disputa entre europeus e sul-americanos, mas que há vinte anos se tornou inalcançável para quem está fora da Europa.

    Festa na Líbia, festa no Iraque, definitivamente festa no Catar. No dia seguinte à vitória de Marrocos sobre Portugal brotaram no Souq Waqif — o maior mercado de rua de Doha, transformado em ponto de encontro de torcidas do mundo inteiro — camisetas brancas com as bandeiras dos quatro países árabes presentes no Mundial. No meio dos emblemas de Catar, Arábia Saudita, Tunísia e Marrocos, a frase “Eu sou” — eu sou catari, saudita, tunisiano, marroquino. Abaixo das quatro bandeiras: “Sempre com os árabes”. O técnico da seleção marroquina, Walid Regragui, usou suas entrevistas para ampliar o alcance do feito de seus comandados. “Estamos aqui para representar a África. Senegal, Gana, Camarões. Por que a África não pode ganhar a Copa do Mundo?” Pode sim. Nunca esteve tão perto.

    Nunca na história das Copas do Mundo os aspectos extracampo foram tão importantes, tão analisados com lupa por jornais do mundo inteiro e tão esmiuçados por relatórios de ONGs. Mas foram justamente os princípios mais básicos do futebol, os inegociáveis, os indomáveis, os que não nunca fazem parte de acordos de nenhum tipo, que arrastaram a Copa de volta para esta discussão.

    Marrocos está na semifinal da Copa porque é um excelente time de futebol, porque sabe se defender de maneira eficiente sem ser covarde, porque tem perfeita consciência de como causar dano a seus rivais quando ataca, porque é um dos muitos, incontáveis, países do futebol. Pode parecer incrível para o Brasil, mas existem outros países do futebol. Agora Marrocos vai enfrentar a França, provavelmente a seleção mais preparada para ganhar este Mundial. Não é um exagero nem um equívoco afirmar que os marroquinos terão o apoio de todos os países árabes e de toda a África.

    Tanto faz o que aconteça nos próximos jogos, esta será para sempre a Copa do Mundo de Marrocos.

    GLOBO 

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