De olho no video!
LILIA SCHWARCZ
De olho no vídeo! O
final do governo Bolsonaro vai se aproximando. Mesmo assim ele não cansa
de nos surpreender. Nessa segunda, 20 de dezembro, manifestantes
bolsonaristas fizeram um minuto de silêncio para “o presidente, o Brasil
e a primeira-dama.” O ato é utilizado como uma homenagem e gesto de
respeito após a morte de alguém. Nesse caso, deveria lembrar (sei lá) a
morte deste governo? Pois que assim seja!
Mas mais bizarro do
que o ato, é o conjunto da cena. Bolsonaro e Michelle foram até a frente
da residência oficial, no Palácio da Alvorada, caminhando pelo gramado
e acompanhados de seguranças.
Ele, de terno completo, permanece
imóvel e ereto como se estivesse numa cerimônia oficial. Ela, de jeans e
camiseta, se ajoelha e ora junto do grupo de ativistas
anti-democráticos, acampados em local proibido, mas com o beneplácito do
presidente e da primeira-dama.
São dois os seguranças (um
inclusive levando uma bolsa ou pasta em um dos braços, bem semelhante
aquelas portadas em 2019 com armas para garantir a segurança do então
presidente). Um deles veste preto, e outro uma camisa clara — ambos
denotam seriedade. É possível notar o contraste entre as cadeiras de
praia, feitas com material barato de plástico, e as roupas dos soldados
que também cuidam da segurança. À primeira vista, e sem o devido
reconhecimento, a cena, de tão dramática, mais se parece com uma
execução sumária. Mas se trata de outra execução.
O que chama
mais atenção são as atitudes contrastantes. Ela ora, ele se mantém
impávido. Ela de jeans, ele de terno completo, tentando passar um ar de
segurança.
O resultado porém é que ela se ajoelha aos pés do
marido, como se fosse submissa a ele. Já seu Jair permanece altivo tal
qual estátua de chefe de estado feita para durar no tempo e diante das
intempéries. Que bom que não seja esse o caso. Essa pose toda dura
pouco.
Muitos tiranos tiveram suas esculturas, feitas de
concreto e mármore, derrubadas peloos novos regimes que os sucederam.
Que Bolsonaro e sua trupe esperem por sua sina, que não deve tardar. Ao
invés da imortalidade, ele deve ganhar a mortalidade dos tiranos, dos
fracos e dos traidores. Espetáculo cafona de tão ridículo que é!