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    domingo, novembro 20, 2022

    Qatar, dia 1: Copa do Mundo dá a impressão que está no lugar errado

     

     

     

     

     

     

    Diego Garcia

    O voo que saiu de escala em Amsterdã com destino a Doha na noite da última quarta-feira começou a deixar no ar aquele clima de Copa do Mundo que nos contagia a cada quatro anos. Dezenas de torcedores equatorianos cantavam no aeroporto, acompanhados de pessoas com camisas de Brasil, Argentina e até Peru, que sequer está na Copa.

    "Vou para torcer pelo futebol sul-americano", me disse o peruano que se identificou como Nilson, que vestia uma camisa do atacante Paolo Guerrero e estava a caminho de seu terceiro Mundial —o torcedor também esteve no Brasil em 2014 e na Rússia em 2018. Isso é puro suco de Copa do Mundo: o país do cara nem sequer vai jogar, mas ele vai se divertir. E quem já viveu de perto esse clima de Copa sabe como é única a sensação de estar dentro de uma.

    A chegada a Doha já pela madrugada mostrou uma decoração toda voltada ao Mundial, com turistas do mundo inteiro desembarcando felizes com suas bandeiras. O ex-jogador colombiano Carlos Valderrama, que veio como comentarista, fazia sucesso na fila para retirar a bagagem, tirando selfies com curiosos de todas as partes.

    No metrô, às 2h da manhã, uma dúzia de pessoas com camisas da seleção de Gana carregavam suas malas nos vagões do trem. Mas o clima de Copa acabou aí. Durante o dia, já foi possível lembrar que o Mundial será em um local controverso, que agora vetou o comércio de bebidas alcoólicas a dois dias da abertura e chocou torcedores que chegam diariamente.

    A notícia do veto ao álcool caiu como uma bomba em todo o mundo, afinal, a Budweiser é uma das principais patrocinadoras da competição. E, para os turistas que vieram ao Qatar contando com o comércio de bebida, como será assistir a uma Copa sem poder curtir um ambiente descontraído dos arredores de um campo de futebol acompanhado de uma cerveja gelada?

    O curioso é que ainda é possível beber em alguns bares ou hotéis internacionais de Doha. E ainda existe o acesso a bebidas alcoólicas em tendas ou outras áreas vips dentro das arenas do Mundial. É possível encontrar cerveja por cerca de R$ 70 em determinados locais, valor pelo menos 4 vezes mais caro que em lugares badalados de São Paulo —e 10 vezes mais que nos populares.

    Então, vamos lembrando aos poucos como a Copa 2022 está destinada aos ricos. Para entrar no Qatar, os turistas precisaram desembolsar altos valores de hospedagens, já que a organização não deu opções a mochileiros ou aventureiros, comuns nesse tipo de evento. Quem não se lembra dos milhares de argentinos acampando no Rio de Janeiro em 2014?

    O ingresso no Qatar só era possível após os visitantes tirarem um visto chamado Hayya Card, que para ser aprovado precisa trazer em seu cadastro os exatos locais de hospedagem dos forasteiros, já totalmente pagos. Populares, que gostam de ficar em hostels, acampamentos ou mesmo de favor, portanto, acabaram excluídos.

    Pelas ruas, o que encontrei foram calçadas desertas na maior parte dos trajetos. Os metrôs pareciam estar em situação normal, com uma minoria de torcedores usando camisas ou bandeiras. E se veem poucas mulheres. Poucas mesmo. Em sua maioria são homens andando em bandos. Já nos pontos turísticos, aos quais ainda não visitei, mas ouvi relatos de amigos, por outro lado, já era possível encontrar um pouco mais de movimento, ainda que tímido comparado a Copas passadas.

    Na noite passada, o amigo colunista Julio Gomes presenciou uma nova bizarra: um grupo de mexicanos abriu uma enorme bandeira de seu país com algumas palavras em espanhol, tiraram uma foto e fecharam rapidamente. Questionados, disseram que "foram intimados pela polícia a não exibirem bandeiras". Como assim? É uma Copa do Mundo!

    Por outro lado, nestes locais, torcedores tunisianos, iranianos e até indianos —que também não estão na Copa, mas entraram em peso no Qatar— eram maioria nas ruas. O primeiro torneio em um país árabe possibilitou uma vinda em grande número dessas pessoas, que devem aparecer bastante nas festas pelas ruas de Doha e arredores.

    Para entrar no país, foram criados diferentes cadastros para identificar hospedagens, jornalistas, equipamentos e até diferentes permissões para filmar em locais ou transportes públicos. O vídeo de um jornalista dinamarquês sendo destratado ao vivo por seguranças que queriam impedi-lo de filmar dias antes da abertura também assustou. Fora as denúncias de frágeis condições de trabalho na construção dos estádios e os históricos de misoginia e homofobia.

    Paralelo a tudo isso, fica a dúvida: as pessoas que viajaram ao Qatar foram para viverem esse ambiente de Copa do Mundo, para conhecerem o país ou ambos? Os mesmos turistas desembarcariam em Doha nesta época do ano caso o Mundial não acontecesse? Ou iriam para a Copa até se esta estivesse sendo realizada na Groenlândia?

    É o país que deve se adaptar à Copa ou a Copa que deve se adaptar ao país? Em 2014, o Brasil cumpriu todas as exigências da Fifa, inclusive passando por cima da proibição de álcool nos estádios. Fato semelhante ocorreu na Rússia, onde não podia se beber nas ruas, mas foi feita vista grossa após as mesmas serem tomadas por torcedores do mundo inteiro.

    Por outro lado, quem a Fifa pensa que é para entrar em países independentes e fazer exigências que resultaram em elefantes brancos na África, Brasil, Rússia e também, claro, no Qatar? Já não estava na hora de alguém dizer à entidade que "aqui, não!", as leis locais serão cumpridas e a cultura respeitada?

    Enfim, ficam os questionamentos. Enquanto isso, aqui em Doha, fiquei com a impressão de que a Copa, a princípio, parece estar no lugar errado.

    UOL 
     

     

     

     

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