4 coisas para você que não acompanha tanto futebol gritar durante as partidas da seleção brasileira caso queira se sentir um pouco mais engajado no evento
João Luis Jr
“Tite burro” – Poucas coisas são mais tradicionais na cultura futebolística do que responsabilizar o treinador da equipe pelo máximo de coisas que for possível. Gabriel Jesus perdeu um gol? Culpa do Tite, que convocou e escalou. Bremer falhou na zaga? Culpa do Tite, que achou esse tal de Bremer, a gente nem conhecia Bremer. A cerveja não tá gelada? Culpa do Tite, por alguma razão que talvez a gente precise se esforçar mais pra alcançar, mas com certeza a gente consegue chegar lá.
A questão é que a ofensa ao técnico da equipe é sim uma das maneiras mais garantidas de se enturmar diante de qualquer problema, ainda que momentâneo, do time e é uma ótima maneira de parecer estar emocionalmente engajado com a partida mesmo que você tenha ido apenas pelo churrasco e o último jogador cujo nome você gravou era o Kaká, porque era fácil de memorizar.
“Faltou [insira aqui absolutamente qualquer jogador]” – Diante da limitação da FIFA de que cada técnico de seleção nacional pode convocar apenas 26 atletas para a disputa da Copa do Mundo, fazendo com que todos os outros atletas não possam ser convocados, se torna garantido que, em qualquer situação de dificuldade do escrete canarinho, você possa apenas dizer que isso tudo seria resolvido com a convocação de absolutamente qualquer outro jogador nascido em território nacional.
0x0 no placar? “Faltou convocar o Gabigol”. Tomamos um gol? “Faltou convocar Cássio”. Neymar fez o gol e dedicou pro Bolsonaro? “Se tivesse convocado o Cano isso não acontecia”, mesmo sendo o Cano argentino, o que ressalta mais uma das vantagens desse comentário: ele não precisa fazer muito sentido e você pode sair citando até mesmo jogadores estrangeiros ou aposentados, com o argumento de que “ah, não falo o Garrincha, falou um cara feito ele”, ou mesmo “se a CBF quisesse dava um jeito, naturalizar não é tão complicado assim”.
“Copa do Mundo é tudo armado” – Essa é muito boa já que está cada vez mais em voga no Brasil a tendência de, diante do menor revés, do mais básico problema, de qualquer mínimo inconveniente, questionar a lisura do processo e acusar tudo de ser uma armação. Pênalti não marcado pro Brasil? Armação. Cartão vermelho pra jogador nosso? Conspiração. Qualquer coisa abaixo de Brasil campeão? Todo mundo indo até a Suiça fechar as rodovias de acesso à sede da FIFA.
O bom do comentário de que “é tudo armado” é que ele não apenas fala alto ao coração cada vez mais dissociado e incapaz de aceitar uma derrota de grande parte dos brasileiros como também possui um óbvio fundo de verdade, já que realmente a Copa é um evento armado, dado o fato de que as 32 seleções não estariam no mesmo país por acaso, essas coisas só acontecem em filme.
“Ah, mas [insira aqui qualquer coisa ruim] o Neymar sabe...” – Mais do que gols, uma coisa que o atleta Neymar Junior tem demonstrado saber fazer durante os últimos anos de sua carreira é angariar o máximo de antipatia possível para um cidadão que tinha todo o potencial para ser um herói nacional.
Sejam acusações de
violência sexual, sonegação de impostos ou a brilhante decisão de
declarar apoio à Bolsonaro no segundo turno, quando o atual presidente
já estava atrás nas pesquisas e o apoio muito provavelmente não iria
ajudar o candidato mas com certeza iria queimar o jogador, Neymar
concilia um grande protagonismo na criação de jogadas dentro de campo e
um ainda maior protagonismo na criação de situações
bizarras/desnecessárias ou apenas escrotas fora dele, se tornando um
ótimo nome para xingar diante de qualquer atuação ruim da seleção e
muito provavelmente também um nome para motivar comentários do tipo “tem
que separar o artista da obra” se a seleção ganhar alguma coisa.
CONFORME SOLICITADO