O streaming é a salvação do ansioso

LEO AVERSA

O streaming é a solução do ansioso

Duas semanas atrás falei aqui sobre a complicada vida do ansioso. Muitos leitores mandaram mensagens, se identificando com as minhas maluquices ou falando das próprias, que, claro, acrescentei ao meu cardápio. #tamojunto. O que importa é que daqui a pouco vão começar na Copa os jogos de mata-mata, aqueles em que a diferença entre a glória eterna e o fracasso retumbante pode ser de centímetros ou segundos. A apoteose de ansiedade.

Como resolver a tensão de um jogo decisivo, a aflição do tudo ou nada? Se já é ruim para quem é sereno e zen, imaginem para nós.Antigamente o maluco, quer dizer, o ansioso estava entregue à própria sorte na Copa do Mundo: ou encarava a TV roendo as unhas do pé, ou tentava se isolar do mundo, algo quase impossível. Em qualquer lugar se poderia ouvir um grito de gol ao longe, ou pior: não ouvir, claro sinal de derrota. Lula Branco Martins, que trabalhou aqui no GLOBO, enfrentava os jogos decisivos no carro, com os vidros fechados, indo e voltando pela Floresta da Tijuca ou na Ponte Rio-Niterói. Parava só com o jogo encerrado e o fato consumado, ou seja, sem motivos para ansiedade. Um sábio.

Graças à tecnologia, leitor, não precisamos mais encher o tanque nem separar o dinheiro do pedágio. Apareceu a solução definitiva para estas semanas de sofrimento. Vem comigo: há tempos existe um pequeno atraso entre a transmissão da TV aberta e a da TV a cabo, coisa de dois segundos. O jogador chuta no Sport TV, já é gol na TV Globo. Na moderníssima transmissão por internet, esses dois segundos viraram mais de 30. É o que se chama, em português castiço, delay do streaming.

Taí nosso remédio, leitor.

Você está vendo no streaming o Richarlison na intermediária, partindo para o gol adversário. O que será que vai acontecer? Um gol nosso? Um contra-ataque mortal do adversário? Essa dúvida vai corroer a alma do ansioso, tirar o seu equilíbrio sempre precário. Com o streaming, nem dá tempo de se estressar: a comemoração da galera no boteco da esquina resolve a questão. É como se você estivesse assistindo a um documentário sobre o jogo que eles estão assistindo ao vivo. Para quem é normal, uma falha grave. Para nós, ansiosos, a glória: o spoiler esportivo é a salvação.

Pense bem, meu caro e cúmplice leitor: o que pode ser melhor para o ansioso do que saber o que vai acontecer num jogo de futebol? Nada! Qual a sua angústia? Saber se a bola pegou efeito e entrou? Se o cruzamento foi na cabeça do atacante e estufou a rede? Com 30 segundos de atraso, basta deixar a janela aberta para saber o que virá. Temos a nossa cura! Não precisa mais roer objetos, dar voltas na ponte ou tomar Rivotril de canudinho e Isordil de colher. A galera lá de fora dá o spoiler de graça.

Disputa de pênaltis? Uma maré mansa só. Botou a bola na marca, os gritos da galera avisam se entrou ou não. A questão do ansioso, como escrevi na outra semana, é ficar o tempo todo tentando adivinhar o que vai acontecer. Com o streaming e seus 30 segundos no passado, o problema acaba: vitória ou derrota, tanto faz, o que importa é que você fica sabendo antes. O delay disruptivo é a solução.

Aos inventores desta tecnologia, que de tão à frente nos deixou para trás, o meu mais sincero agradecimento.

GLOBO