Um domingo qualquer
Muitas pessoas têm afirmado que o pleito eleitoral deste domingo é "o mais importante de nossa história". Não sei se é possível medir a relevância de um processo político tão complexo, ainda mais estando nele mergulhado. Como disse o filósofo Hegel, "a coruja de minerva levanta voo ao cair do crepúsculo", ou seja: a reflexão sobre um evento só pode ser feita em retrospectiva histórica.
De qualquer modo, é possível dizer com alguma segurança de que se trata de um momento decisivo. No próximo domingo vamos deliberar sobre os rumos do país e, ao mesmo tempo, sobre que tipo de pessoas queremos ser, que valor atribuímos à vida e como queremos marcar nossas trajetórias. Nesse sentido, é uma eleição particularmente existencial.
Estamos sob o governo de pessoas que já demonstraram que não tem qualquer compromisso com o Brasil. Um governo que desdenha do bem-estar, da saúde, da cultura e de tudo aquilo que nos faz ser um país. Que destrói a capacidade administrativa do Estado, que se apropria indevidamente do orçamento público e que multiplica a miséria.
Sob o governo de Jair Messias Bolsonaro, o Estado brasileiro que, mesmo em seus melhores dias, nunca foi muito generoso para com os mais pobres, transformou-se em um maquinário de ódio, de morte e de profundo desprezo pela vida. O Brasil está tomado por bárbaros que a cada dia arrancam um pedaço de nossa alma.
O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, ao se referir ao atual presidente, resumiu em poucas expressões como funcionam e do que são feitos os sujeitos que nos governam e que pretendem ainda permanecer no poder: "abjeto", "desprezível" e "a se evitar".
As eleições também falarão muito sobre como lidamos com a hipocrisia e a mentira. Eleitos na esteira do "combate à corrupção" e adotando uma postura "antissistema", mostraram-se os atuais ocupantes do poder pessoas que sequer existiriam no mundo da política sem se nutrir da corrupção mais ordinária e pedestre, como são exemplo as tais rachadinhas.
Já sua aparente revolta contra o sistema é absolutamente falsa. Refestelam-se no sistema que dizem combater e alimentam-se de sua parte mais podre, a ponto de sujar as calças com farofa e leite condensado.
São, portanto, notórios corruptos, dilapidadores do patrimônio público (deixem nossas praias em paz!), hipócritas, falsos profetas e profanadores das mais comezinhas liturgias civilizatórias. Domingo, dia 2 de outubro de 2022, é também sobre se queremos estar cercados (e dominados) por pessoas deste tipo.
FOLHA