Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital.
Desagua douro de pensa mentos.
quinta-feira, outubro 20, 2022
O impacto da pesquisa DataFolha
RUDÁ RICCI
Bom dia. Resolvi fazer um rápido fio sobre a pesquisa Datafolha (mais
sobre seu impacto) de ontem a partir da histeria que tomou as redes
sociais. Estou na redação de um capítulo de um livro sobre perfil de
famílias e desempenho escolar de alunos e, portanto, serei breve. Lá
vai:
1) Vamos aos fatos. Lula permanece
na liderança e com margem idêntica à verificada na sua vitória no
primeiro turno. Aliás, as mudanças nacionais dos índices foram decimais.
Há forte movimentação nos Estados, mas nacionalmente continua o mesmo
desde dia 2.
2) Há duas questões importantes a
serem consideradas. A primeira é que há movimentação nos Estados e a
campanha de Bolsonaro joga tudo em SP e MG. Acontece que há alteração
pró-Lula em outras regiões do país. Na prática, tudo ficou dentro da
margem de erro.
3) Aqui entra a segunda questão:
margem de erro. Tem "especialista" que decide ler a margem de erro
sempre para apenas um lado. Percebam: Lula venceu Bolsonaro no primeiro
turno por 5 pontos percentuais. Ora, se fosse uma pesquisa por
amostragem, seria empate técnico.
4) Até aqui, ninguém sério e
experiente em pesquisa pode afirmar com certeza que a diferença de Lula
do primeiro turno foi diminuída. Mas, é possível dizer que há uma leve
tendência de recuperação de Bolsonaro. Até aqui, esta tendência vira o
jogo? Não.
5) Agora, uma última observação: o
impacto da pesquisa. Aí, a história fica mais complicada. O resultado do
Datafolha de ontem gerou ataque histérico no campo lulista. Não houve
comemoração do lado de lá na mesma proporção. O que estaria ocorrendo?
Acomodação.
6) Há muitas iniciativas
importantes, de rua, ocorrendo no campo pró-Lula, mas quase sempre são
iniciativas sem coordenação geral. Um exemplo é o evento de mães com
Lula que ocorrerá no domingo em Belo Horizonte. Iniciativa autônoma.
7) A campanha de Lula não estimulou a
velha garra petista no primeiro turno. No segundo turno, botou fogo com
as intervenções ofensivas e maliciosas de Janones, que não é petista.
As campanhas do PT sempre tiveram uma coordenação para as frentes de
massa.
8) Mas, há um problema mais grave: o
estresse pós-traumático de quem não entendeu ainda que a
extrema-direita se organizou no Brasil - ela sempre existiu por essas
bandas - e vem com tudo. Para enfrentá-la, somente com um exército muito
determinado e ofensivo.
9) As eleições vencidas pela
esquerda recentemente na América Latina não ocorreram por larga
diferença. Ao contrário. Na Colômbia, a diferença foi de menos de 3%.
Mas, em todas, houve forte mobilização de rua.
10) O que parece que não está claro é
que o bolsonarismo é o maior movimento de lavagem cerebral em massa
desde o nazismo. Trata-se de ação comunicativa irracional e que almeja a
excitação permanente, usando disparadores psíquicos para a multidão.
Confere uma sensação de força.
11) Na Alemanha nazista, o rádio foi
usado da mesma maneira que hoje o bolsonarismo usa as redes sociais.
Não por outro motivo, em 3 de julho de 1933, o Ministério da Propaganda
do Reich submeteu todas as áreas da imprensa falada à Câmara de
Radiodifusão do governo nazista.
12) Josef Goebbels percebia no rádio
o meio ideal para divulgação da plataforma nazista, por onde se
disseminava a noção de Volksgemeinschaft, ou seja, Comunidade Nacional
alemã.
13) Enfim, parece que ainda não
ficou claro que esta eleição trava uma guerra entre a democracia e o
fascismo, entre uma vida social inclusiva e a barbárie. É assim que
temos que ler as pesquisas até a eleição do dia 30. Não podemos ler de
maneira irracional. (FIM)