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    sexta-feira, outubro 07, 2022

    ‘Não basta apoio de artistas ou acadêmicos, é preciso sair às ruas’, diz Chomsky sobre o PT

     Para linguista Noam Chomsky, população em geral não reconhece ações feitas por governos Lula e Dilma

     O linguista Noam Chomsky fez uma série de críticas ao modo como o PT tem realizado suas campanhas e, principalmente, ao modo como os eleitores são abordados. O americano cita, como um dos principais pontos, a ausência da ocupação de espaços públicos. Para ele, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) reúne multidões por onde passa, o mesmo não o ocorre com Lula (PT) e com a esquerda de um modo geral, que já foi marcada justamente por essa presença ostensiva em grandes manifestações de rua.

    —Não basta ter artistas do seu lado, ou ter acadêmicos, é preciso sair às ruas e se organizar para realmente ter forças populares reais ali — diz. — A gente conversa com as pessoas, e as pessoas não sabem que se beneficiaram dos programas que o Lula criou, não sabem que ele foi o responsável por seus filhos poderem entrar na faculdade, por terem conseguido abrir um pequeno negócio. É Deus, é sorte, ou algo assim. Não o PT — acrescentou Chomsky em entrevista à BBC.

    Ele ainda criticou a reação do partido ao desempenho de Bolsonaro no primeiro turno, quando ficou em segundo lugar, mas acima do apontado pelas pesquisas pré-eleitorais:

    — [O PT vai fazer] uma grande reunião do partido para tentar responder ao que aconteceu [no primeiro turno], uma reunião na universidade, onde estarão artistas e escritores. Enquanto isso, as pessoas comuns dizem: ‘Nos livramos dos bandidos’.

    Chomsky também faz uma comparação entre o PT e o Partido Democrata dos Estados Unidos, que teria se afastado do trabalhador e da população mais pobre, “abraçando” agendas neoliberais e perdendo a “conexão histórica com seu eleitorado”.

    Para ele, esse processo teria aberto espaço para que a “direita radical” conseguisse capturar essa fatia do eleitorado. Chomsky aponta também o que chama de “falta de capilaridade de base do PT e da esquerda brasileira” como fundamental para explicar o êxito da propagação de fake news contra o candidato, o partido e a esquerda de modo geral durante a campanha.

    — Se você tivesse um partido político ou qualquer organização geral defendendo os trabalhadores e os pobres, eles poderiam reagir a isso na base, via organização local. Os democratas não têm. E acho que não existe nada parecido no Brasil. O PT simplesmente não está se organizando na base, no chão de fábrica — explica. — Eles precisam começar a se organizar entre a população em geral. Não basta ter artistas do seu lado, ou ter acadêmicos, é preciso sair às ruas e se organizar para realmente ter forças populares reais ali.

    O linguista, que é aposentado pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets, mas atua como professor na Universidade do Arizona, aponta que pautas como o aborto e o armamento civil são “estratégias diversionistas” para desviar o foco dos mais pobres em relação às políticas econômicas.

    Contudo, ele aponta, ainda, que o “pior crime de Bolsonaro é destruir a Amazônia”, o que pode pôr em risco a sobrevivência da humanidade. Chomsky também enxerga uma série de paralelos entre a política nos EUA e no Brasil, incluindo pesquisas eleitorais que não medem com exatidão o desempenho de populistas de direita ou o risco de acontecer algo como a invasão do Capitólio nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021. Na ocasião, grupos trumpistas tentaram impedir a certificação da vitória de Joe Biden.

    — Bolsonaro fez declarações alegando possíveis fraudes tão extremas que a comunidade diplomática internacional se opôs fortemente. Então eu acho que eles vão se abster desse tipo de movimento. Mas é perfeitamente possível que eles possam replicar o 6 de janeiro. Lembre-se, o 6 de janeiro chegou muito perto de um golpe e só não o foi porque meia dúzia de pessoas decidiram diferente — conclui.

    O GLOBO 

     

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