Lendas do nosso folclore: a direita democrática

 Arnaldo Branco

Minha lenda brasileira favorita é a direita democrática. Muita gente reclama, dizendo que não é lenda, que ela é real. Mas se formos analisar a História não há registro que tenha se manifestado nenhuma vez em sua forma corpórea.

Direita do tipo comum a gente sempre teve, e testemunhamos suas várias encarnações nas vezes em que venceu as eleições. Mas sempre que perdeu, não fomos agraciados com a presença dessa versão light que alguns dizem que existe, a tal da direita democrática.

Por exemplo: um dos maiores heróis da direita brasileira é o Carlos Lacerda, famoso por ser o melhor presidente que o Brasil nunca teve. Mas não dá para dizer que ele era um representante da direita democrática: tentou comandar golpes em 1954 e 55 e quando finalmente emplacou um, em 64, levou um golpe do golpe.

Acho que a direita quer que a gente considere ela democrática porque costuma participar das eleições. Daí a respeitar resultado é pedir demais.

Houve uma vez em que tentaram conjurar a direita democrática. Em 1984, com o regime militar já pela bola sete e com o povo nas ruas pedindo eleições diretas para presidente, era só a direita democrática - na forma de seus representantes civis - aparecer para aprovar a emenda Dante de Oliveira. Mas apesar de muita reza e muita mandinga, não rolou.

Agora a direita democrática está tendo uma nova chance de se materializar entre nós. Mas quando a gente acha que figuras como Romeu Zema e Rodrigo Garcia vão servir de médiuns dessa entidade misteriosa, eles vão lá e apoiam o fascismo.

Vi alguém dizendo outro dia: o fascismo é o botão de emergência do capitalismo. Tô começando a achar que é o estado natural.

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