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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    sábado, setembro 17, 2022

    Unidos contra a hecatombe

     

    Lula e Marina negam rompimento pessoal e defendem Brasil protagonista no  clima | CNN Brasil

    O abraço trocado entre Lula e Marina, duas lideranças há anos afastadas, encarna a nossa possibilidade de defesa perante inimigos tão ferozes


    Por Sidarta Ribeiro.

     Eu ainda era criança quando tio Eduardo (Briguilha, para os íntimos) me contou uma história incrível sobre dois brasileiros legendários de origem camponesa: o cangaceiro Antônio Silvino e o revolucionário Gregório Bezerra. Nascidos em ­Pernambuco a 300 quilômetros e 25 anos de distância um do outro, lutaram contra a injustiça social de modos muito diferentes, mas igualmente altivos.
     
    Radicalizado pelo assassinato de seu pai, Silvino tornou-se, no fim do século XIX, o mais respeitado chefe cangaceiro até o surgimento de Lampião. Desafiou interesses poderosos, tirou dos ricos para dar aos pobres e arrancou os trilhos ferroviários da empresa inglesa Great Western, que, em nome do progresso, desapropriava terras campesinas sem indenização.
     
    Silvino foi preso em 1914 e só deixaria
    o cárcere em 1937, pouco antes de mor-
    rer. Em 1917, na Casa de Detenção do Re-
    cife, veio a conhecer e proteger um ado-
    lescente franzino e analfabeto que ha-
    via sido preso na primeira greve geral
    do Brasil, por direitos como a jornada
    diária de oito horas de trabalho e o des-
    canso semanal. Era Gregório Bezerra.
     
    O jovem era valente e havia sido isola-
    do para não sofrer violência, mas o ho-
    mem maduro o ensinou a conviver pa-
    cificamente com os outros prisioneiros.
    Silvino aprendera a ler na prisão e sua
    opinião sobre o que lia nos jornais forjou a
    formação política de Gregório. Foi através
    dele que o rapaz ficou sabendo da Revolu-
    ção Russa. Nas palavras do ex-cangacei-
    ro, em Memórias (Boitempo, 2011), “o po-
    vo reunido é mais poderoso do que tudo e
    a revolução dos bolcheviques vai se espa-
    lhar pelo mundo. A lei do maximalismo –
    era assim que se referia ao marxismo –,
    com um homem como este (Lenin) que
    está no poder, vai triunfar. Esse homem
    tem muito juízo e muito talento na cabe-
    ça. Ninguém pode com ele”.
     
    Bezerra deixou a prisão quatro anos
    depois e se alistou no Exército, onde vi-
    ria a se alfabetizar e a se fortalecer até
    se tornar sargento instrutor de educação
    física. Em 1930, filiou-se ao Partido Co-
    munista Brasileiro e, em 1935, foi nova-
    mente preso, após a tentativa frustrada
    de derrubar Getúlio Vargas e combater o
    fascismo integralista. Na enfermaria da
    Casa de Detenção, deparou-se com sua
    primeira visita. Era o velho amigo Antô-
    nio Silvino, que trazia solidariedade, mas
    também uma dura crítica à insurreição
    fracassada. Segundo Briguilha, Silvino
    teria dito nessa ocasião: “Vocês maxima-
    listas não aprenderam nada. Demora mil
    anos para nascer um outro Lenin”.
     
    Já vão longe o cangaço e as revoluções
    armadas, mas, infelizmente, ainda não
    nos livramos nem do latifúndio nem do
    fascismo. Em duas semanas, iremos às ur-
    nas e a força da nossa democracia será me-
    dida por nossa capacidade de fazer elei-
    ções sem voto de cabresto nem terroris-
    mo. Infelizmente, entretanto, a violência
    política vem crescendo. Os recentes as-
    sassinatos de lulistas por bolsonaristas
    projetam a sombra aziaga da guerra civil.
     
    É por isso que me enche de esperança
    o abraço trocado entre duas lideranças
    legendárias de nosso tempo, afastadas
    há anos, mas reunidas novamente pelo
    bem do País. Irmanados pela origem ru-
    ral, pela sobrevivência à fome, pelo com-
    promisso com a massa trabalhadora e pe-
    lo sobrenome Silva, Lula e Marina encar-
    nam o que de melhor o povo brasileiro já
    produziu em sua própria defesa perante
    inimigos tão ferozes.
     
    Não sei se demora mil anos para nascer
    um outro Lula ou outra Marina, pois a ca-
    da dia, nas favelas e nos grotões deste país,
    nascem muitas crianças com esse poten-
    cial. O que sei é que tão cedo não teremos
    outra chance de consertar o País. A Chi-
    na já decolou rumo ao século XXI, o He-
    misfério Norte se descola cada vez mais
    do Sul global, enquanto seguimos na con-
    tradição que Lévi-Strauss e Caetano Velo-
    so apontaram com precisão: ainda esta-
    mos em construção, mas já somos ruína.
     
    Por isso é tão belo o reencontro de Marina
    e Lula. Precisamos do mais amplo arco de
    alianças para reconstruir o que ainda resta
    após a hecatombe socioambiental do atual
    governo. Precisamos de pessoas tão dife-
    rentes quanto Sônia Guajajara e Geraldo
    Alckmin, as Luizas Erundina e Trajano,
    Guilherme Boulos e Alexandre Kalil,
    Ricardo Galvão e Fátima Bezerra, Talíria
    Petrone e Henrique Vieira, Natália Bona-
    vides e Marcelo Freixo, Douglas Belchior
    e Eduardo Gianetti, Erika Hilton e André
    Barros, Tatiana Roque e Joênia Wapichana,
    Marília Arraes e Fernando Haddad.
     
    Precisamos de todo o nosso talento,
    técnica, amor e sabedoria para, final-
    mente, honrar as lutas de pessoas como
    Antônio Silvino e Gregório Bezerra. A
    esperança está no ar. O Brasil abre suas
    asas pra voar.

    CARTA CAPITAL


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