A Jovem Pan e o Golpe
" Em 2020, com a chegada da pande-
mia e a radicalização do discurso de Bol-
sonaro contra as medidas sanitárias, o
tom começou a subir nos programas da
Jovem Pan – até que chegou o dia 24 de
abril. Nessa data, o ex-juiz Sergio Moro
deixou o Ministério da Justiça, acusando
para proteger a família. O programa en-
tão entrou em curto-circuito. “O governo
que assumiu em 1º de janeiro de 2019,
sob o olhar esperançoso de milhões de
brasileiros que apostam pela vitória no
combate contra a corrupção, esse gover-
no terminou hoje”, decretou Nunes. Era
um sinal de que o programa tomaria um
rumo definitivamente crítico ao governo.
Aconteceu o contrário. “Quando o
Moro saiu, tínhamos a certeza de que
o governo tinha acabado”, diz um profis-
sional que integra a produção da emissora
e falou à piauí sob condição de anonima-
to. Naquela altura, Tutinha teve a mesma
certeza e chegou a decretar o fim do
apoio ao bolsonarismo, anunciando que
o novo tom seria dado pelo jornalista José
Maria Trindade em seu comentário em
Os Pingos nos Is. Mas antes que a ordem
fosse dada, o empresário foi bombardea-
do por informações de que a audiência
não havia desembarcado. “Nos comentá-
rios, víamos que a audiência seguia com
o Bolsonaro, não com o Moro,” relatou o
funcionário, que compilava as críticas e
xingamentos que se amontoavam no ca-
nal do programa no YouTube. Outra ob-
servação sensibilizou o bolso de Tutinha:
se a imprensa estava majoritariamente
contra o presidente naquele momento,
quem atenderia a audiência que ainda era
favorável a ele? Assim, na medida em que
foi constatando que a audiência abando-
nara Moro e mandara às favas seus pruri-
dos anticorrupção, continuando fiel ao
presidente, Os Pingos nos Is mergulhou
de vez no bolsonarismo – e o fez com
uma voracidade ideológica poucas vezes
vista na mídia brasileira."