À espreita
"Eu quase tenho mais medo desse marido aparentemente dócil, desse jovem que nunca debatia sobre política e ficava horas trancado no quarto, desse vizinho que nunca causou problemas, do que da manada de elefantes. Bolsonaro empoderou o elefante e o homem das sombras. Empoderou o macho que espanca sua mulher e aquele que sempre quis espancá-la, mas não o fez, o macho que agride e mata um trans e aquele que mata com o olhar, em silêncio. Empoderou o macho que estupra, violenta e assedia mulheres e o jovem incel incapaz de transar de forma saudável e que canaliza sua própria castração num ressentimento que o afoga. Muitos deles sentem que, pela primeira vez, não são invisíveis porque o bolsonarismo lhes deu voz e imagem. “É a nossa vez”, a vez dos que nos sentimos emasculados pelas mulheres, desvirilizados pelo politicamente correto, os que sentimos que este mundo não nos pertence mais, quando, na verdade, deveríamos ser os donos. Para esses, machos elefantes ou machos silenciosos, é agora ou nunca. Se Bolsonaro perder, o sonho de recuperar um poder que lhes foi roubado, o sonho de não se sentirem capados nunca mais, vai embora. Tenho medo do perigo que pode surgir das sombras."