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    terça-feira, junho 21, 2022

    Peixes e pó: o mandante e os comandantes

     O mistério que liga os assassinos de Dom e Bruno à cocaína consumida no Norte Global

    Depois das prisões dos homens que se declararam os assassinos de Dom Phillips e Bruno Pereira, a Polícia Federal se apressou em dizer que não há mandantes do crime. É estranho? Sim, muito.

    Uma investigação dessa magnitude ser finalizada assim, em tempo recorde, levanta muitas suspeitas. Vamos começar pelo básico: se Bruno já havia denunciando os homens que seriam seus assassinos; se a União do Povos Indígenas do Vale do Javari já havia denunciado uma extensa organização criminosa na área; então eu pergunto:

    “Mesmo que não se tenha indícios de que houve mandantes, a PF não quer saber quem são os COMANDANTES?”


    A grande questão não é apenas identificar se houve ou não mandantes do assassinato em si, mas PARA QUEM os assassinos confessos trabalham no dia a dia.

    A que propósito serve a pesca ilegal que eles faziam?

    Há claramente uma organização criminosa por trás disso. Alguém acredita que dois ou três pescadores tomariam, sozinhos, a decisão de matar um jornalista e um servidor da Funai? É evidente que um crime dessa magnitude causa comoção global. Em sistemas mafiosos, a ordem vem SEMPRE de cima. Caso tivessem atirado em Bruno e Dom sem a certeza de que poderiam fazê-lo, os próprios assassinos já não estariam mais aqui para contar a história.


    Prestem atenção ao que publicou o Amazônia Real. Depois, eu vou deixar duas fotos para ajudar a PF a clarear as ideias:

    "Desde o início do desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira, circulam nomes como “Churrasco”, “Pelado”, “Caboclo”, Jânio e Nei, todos apontados como tendo alguma ligação com o caso. Mas “Colômbia” pode ser a peça que falta nesse quebra-cabeça.

    “Colômbia” é o peruano Rubens Villar Coelho, que teria se contrariado com as ações de fiscalização coordenadas por Bruno Pereira, segundo o jornal O Globo.

    Ele possui propriedades no município de Benjamin Constant, também vizinha de Atalaia de Norte, e controla o fluxo de drogas no rio Itacoaí, uma das calhas da TI Vale do Javari mais invadidas por caçadores e pescadores ilegais."

    Colômbia” é um traficante peruano que usa da pesca e caça ilegais para retroalimentar o tráfico de drogas e as práticas que afetam tanto os indígenas quanto os projetos de manejo desempenhados na região."

    A Univaja reforça a apuração dos jornalistas e diz que “a PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021". “Tais documentos apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando nas invasões constantes à Terra Indígena Vale do Javari". Não estamos diante de pescadores amadores.

    A nota:

    Imagem


    Zero, Zero, Zero

    O sujeito sentado agora a seu lado no metrô cheirou para acordar hoje de manhã; ou o motorista do ônibus que te leva pra casa porque quer fazer hora extra sem sentir dor na cervical. As pessoas mais próximas de você cheiram. Se não é seu pai ou sua mãe, se não é seu irmão, então é seu filho. Se não é seu filho, é seu chefe. Ou a secretária dele, que só cheira aos sábados pra se divertir. Se não é seu chefe, é a mulher dele que cheira para ir vivendo. Se não é a mu‑ lher, é a amante dele, a quem ele dá pó de presente, em vez de brincos e dia‑ mantes. Se não são eles, é o caminhoneiro que faz chegar toneladas de café nos bares da sua cidade e que não conseguiria aguentar todas aquelas horas de estrada sem pó. Se não é ele, é a enfermeira que está trocando o cateter do seu avô, para quem o pó deixa tudo mais leve, até mesmo as noites. Se não é ela, é o pintor que está pintando a sala da casa da sua namorada, que começou por curiosidade e depois se viu contraindo dívidas. Quem cheira está ao seu lado. É o policial que está a ponto de te parar, que cheira faz anos, e agora todos se deram conta e escrevem cartas anônimas que mandam a seus superiores espe‑ rando que o suspendam antes que faça alguma besteira. Se não é ele, é o cirur‑ gião que está acordando agora para operar sua tia e que graças ao pó consegue abrir até seis pessoas por dia, ou o advogado que você vai consultar para o seu divórcio. É o juiz que se pronunciará sobre sua causa cível e não considera o  12 pó um vício, só uma ajuda para gozar a vida
    Zero zero zero : Saviano, Roberto, Carotti, Federico, Dias, Maurício  Santana, Melo, Joana Angélica d, Lino, Marcello: Livros — Amazon Brasil

    Trecho do livro ‘Zero, Zero, Zero’, de Roberto Saviano (Companhia das Letras).


    A cocaína aspirada na Europa passa também por ali, pelo Vale do Javari. Há indícios suficientes levantados por pessoas que conhecem a área que a pesca ilegal na terra indígena serve para lavar o dinheiro do pó. Os peixes são vendidos e exportados para os quatro cantos do mundo.

    Pirarucu – o maior peixe de escama de água doce do mundo – e tracajá (uma espécie de cágado) são muito procurados pelos rios da região por seu alto valor comercial. Com a venda “legal” desses animais é possível lavar o dinheiro da cocaína produzia no Peru e na Colômbia.

    “Colômbia”, como vimos acima, é o apelido do peruano Rubens Villar Coelho, prejudicado em seus negócios ilegais por Bruno Pereira.

    Deixo então uma pergunta e duas fotos para a PF.

    Quem coordena o envio de peixes da cidade de Leticia para Bogotá a partir de uma balsa que opera na cidade de Islandia, margem do rio Javari, no Peru?

    A balsa:

    Quem são os comandantes?

    Os investigadores estão com receio de puxar esse fio?

    Será que se puxar direitinho ele chega no rabo de gente grande e poderosa?

    Tenho minhas suspeitas.

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