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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    segunda-feira, junho 06, 2022

    A agonia do PSDB



    POR ALDO FORNAZIERI

     A história recente do PSDB constitui um manual quase perfeito acerca de como os dirigentes destroem um partido. A legenda surgiu em 1989 como dissidência do PMDB. O seu caráter consistia em ser um partido parlamentar, situado na esfera do Estado, com um eixo programático centrado nos compromissos democráticos, com ideias acerca da reforma do Estado e sua modernização, 
    apostas em algumas polIticas sociais e com foco no combate à inflação. Surgiu sem um enraizamento so-
    cial, mas atraiu a simpatia de amplos setores das classes médias.

    No governo durante oito anos com
    FHC, o PSDB seguiu o caminho que um
    grande número de partidos segue quan-
    do chega ao poder: sofreu uma corrupção
    (degradação) dos princípios originários e
    dos conteúdos programáticos e se trans-
    formou em um partido preponderante-
    mente de interesses particularistas liga-
    dos aos cargos, recursos públicos, privilé-
    gios, estruturas de poder etc. Perdeu a vi-
    talidade e as virtudes.


    Como partido de oposição aos governos
    petistas, o PSDB foi frágil, não encontran-
    do um eixo orientador de seu oposicionis-
    mo. Mas, com o passar do tempo, foi se des-
    locando cada vez mais para a direita. Ao
    questionar as eleições de 2014 e ao assu-
    mir o impeachment contra Dilma, deu um
    passo significativo para o abandono dos
    compromissos democráticos. A culmi-
    nância desse processo de decomposição
    política e moral ocorreu nas eleições de
    2018 e durante o governo Bolsonaro.


    Naquela eleição, o PSDB apoiou
    Bolsonaro, principalmente no segundo
    turno, tendo como símbolo desse apoio
    o BolsoDoria. Durante o atual governo, a
    maior parte da bancada apoia Bolsonaro.
    Quer dizer, o partido apoiou um candida-
    to e depois um presidente que defende di-
    taduras e ditadores, torturas e torturado-
    res, a violência política como método, fu-
    zilamentos, incluindo o do próprio FHC,
    ataques recorrentes ao Estado de Direito
    e às instituições democráticas.


    Ninguém pode alegar desconheci-
    mento de quem é Bolsonaro. Então fica a
    questão: o que aconteceu com um parti-
    do que tem no nome o termo “social-de-
    mocracia”, que tem como dirigentes his-
    tóricos líderes que foram perseguidos pe-
    la ditadura e lutaram pela redemocratiza-
    ção? Como pode parcela significativa des-
    se partido apoiar um político de extrema-
    -direita e fascistoide? O mesmo vale para
    setores do MDB, um partido que tem sua
    história ligada à luta contra o regime mi-
    litar. Chega a ser espantoso como setores
    dessas duas legendas renegam e traem o
    próprio passado partidário.


    Uma das explicações desse fenômeno
    talvez se encontre no fato de que os par-
    tidos, tal como existiram no século XX,
    são hoje uma realidade em decomposição
    e em extinção. Nas sociedades pós-indus-
    triais – tecnológicas e de serviços – eles
    tendem a não representar mais setores
    sociais específicos. No Brasil esse qua-
    dro se agrava porque os partidos foram e
    são quase todos inorgânicos. Mas, diante
    deste novo quadro, as tradicionais identi-
    dades pelo nome das siglas e outras sim-
    bologias, parecem perder relevância. Ve-
    ja-se o que aconteceu na França. Sem en-
    trar num mérito valorativo, o fato é que,
    aqui no Brasil, agora, as Federações Par-
    tidárias aceleram esse processo. A própria
    fusão do PSL e do DEM no União Brasil
    também entra nesse caso.


    Ocorre que os partidos, além de não se
    vincularem mais à representação de se-
    tores sociais específicos, também deixam
    de lado a ideia de um projeto de país, de
    um programa nacional. As organizações
    e composições tornaram-se fluidas, im-
    permanentes. Elas se estruturam com a
    finalidade de capturar parcelas de eleito-
    res para ocupar um espaço de poder nos
    Parlamentos, nos cargos públicos e no sis-
    tema de privilégios políticos, fundos par-
    tidários e nacos orçamentários.


    Nesses termos, verifica-se, ao menos
    em alguns segmentos políticos, um cres-
    cente desinteresse pela disputa da Pre-
    sidência da República, por exemplo. Se a
    preocupação central não é mais com o pro-
    jeto nacional, mas com cargos, privilégios
    e verbas, então parece fazer mais sentido
    ter bancadas fortes. Assim, partidos do
    Centrão que se agregam em torno de Bol-
    sonaro pensam menos nele e mais no ta-
    manho de suas bancadas. Partes do MDB,
    do PSDB, do PSD, e assim por diante, pen-
    sam nos mesmos termos. Esse processo le-
    va ao insulamento autárquico dos parti-
    dos, à morte da democracia de partidos,
    ao abandono das massas e à captura do Es-
    tado como um terreno de mera disputa de
    poder, privilégios, verbas e fundos pelos
    grupos que se organizam em formas par-
    tidárias voláteis para realizar essas cap-
    turas. Os grandes perdedores desse pro-
    cesso são as massas, a sociedade como um
    todo e, principalmente, os mais pobres. 


    CARTA CAPITAL 


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