Em busca de negócios, Elon Musk encontra um governo de joelhos
Bernardo Mello Franco
Em campanha à reeleição, Bolsonaro tirou o dia para bajular o homem mais rico do mundo. “Poderíamos chamá-lo de mito da liberdade”, derramou-se. Ele definiu o anúncio da compra do Twitter, um negócio de US$ 44 bilhões, como um “sopro de esperança”. “A vinda dele é um marco para todos nós”, proclamou, antes de condecorá-lo com uma medalha.
O ministro Fábio Faria, que organizou a visita, foi ainda mais longe na vassalagem. “Todos no Brasil te amam”, disse a Musk. Não era só o complexo de vira-latas, identificado por Nelson Rodrigues como um traço da psiquê nacional. Os bolsonaristas cortejam o bilionário porque têm muitos interesses em jogo. Os mais visíveis estão ligados à regulação das redes.
A extrema direita vibrou quando Musk quando prometeu reativar a conta de Donald Trump no Twitter. O ex-presidente americano foi banido da plataforma após incentivar a invasão do Capitólio. Bolsonaro já ameaçou provocar uma arruaça maior se for derrotado nas urnas.
O capitão e seus seguidores são contra qualquer barreira ao discurso de ódio nas redes. Dizem defender a liberdade, mas querem manter a internet como território livre para as fake news. Além de simpatizar com essa causa, Musk exibe outras afinidades com a turma. No início da pandemia, menosprezou os riscos da Covid e fez propaganda da cloroquina.
Na sexta, Bolsonaro disse que o magnata vai ajudá-lo a desfazer “mentiras” e mostrar que a Amazônia “é preservada por nós”. Interessado em riquezas minerais, Musk anunciou que seus satélites vão colaborar com o “monitoramento ambiental” da região. Ninguém apresentou detalhes ou custos do serviço.
O Brasil já tem um bom sistema de vigilância da floresta. É operado pelo Inpe, que Bolsonaro tenta sucatear. O que ameaça a Amazônia não é a falta de satélites, e sim a parceria do capitão com os desmatadores.
O dono da Starlink é um homem de negócios. Veio ao Brasil para multiplicar sua fortuna, não para fazer caridade. Tipos assim têm mais a ganhar quando são recebidos por um governo de joelhos.