O chuchu petista e os mais jovens
Thiago Amparo
A renovação política em 2022 tem ares de déjà-vu: embora a prioridade seja evitar que Bolsonaro se reeleja, o que requer união para transformar a eleição em um plebiscito sobre sua notória incompetência, não há como deixar de notar que os mesmos atores estão ditando as regras, ainda. Para vencer Bolsonaro, a chapa Lula-Alckmin pode ser suficiente, pois traz união de antigos oponentes, o que já é um feito democrático grandioso; para vencer o bolsonarismo, porém, é preciso mais: renovar a política e energizar mais jovens.
A geração nascida na democracia e que, em 2018, tinha interesse em concorrer em eleições (29% dos que tinham entre 16 e 25, segundo Datafolha) hoje está desiludida com a política institucional (o Tribunal Superior Eleitoral registrou, em fevereiro, o menor número da história de adolescentes de 16 a 17 anos com título de eleitor). Parte dela está precarizada na economia de bicos, onde exploração e hiperindividualismo se unem servindo de base para uma parcela pobre, mas autoritária. Parte dela está com fome demais para sair às ruas contra o alto custo de vida. Fome de comida e de esperança.
"O momento do Brasil é crítico e exige gestos políticos e generosidade", bem escreveu Boulos. Um destes gestos foi justamente o de Alckmin ao entregar um forte discurso de união. Para devolver à geração da democracia a sua confiança na própria democracia, é necessário que os partidos de plantão escutem os mais jovens e cedam espaços de poder —de direções partidárias a ministérios e candidaturas— a essa geração, com equidade racial, de gênero, deficiência e outros marcadores.
Se Lula-Alckmin ganharão a eleição, o tempo e as urnas dirão; se os mais jovens estarão com eles no poder do lado de dentro do cercadinho, Lula e Alckmin devem nos dizer. No dia seguinte à derrocada de Bolsonaro, temos um país a construir para que quem ontem tinha a arma da polícia na cabeça possa ter agora a caneta do poder na mão. O velho normal não basta, com ou sem gosto de chuchu.
folha