Governo trata preço dos combustíveis como emergência eleitoreira
Bruno Boghossian
Os políticos que mantêm Jair Bolsonaro de pé montaram uma operação para dar fôlego à campanha do presidente. Num pacote generoso, integrantes do governo deram aval a duas propostas no Congresso para cortar tributos sobre combustíveis, criar um auxílio-diesel para caminhoneiros e ampliar subsídios para a compra de gás de cozinha.
As bondades devem ter um custo estimado em mais de R$ 100 bilhões, segundo o Ministério da Economia –que é contra as medidas. Os cálculos dão uma ideia do buraco em que o Palácio do Planalto enxerga a candidatura de Bolsonaro a esta altura da disputa pela reeleição.
Aliados do presidente veem o aumento do custo de vida como o ponto mais vulnerável de sua campanha. A inflação deve seguir uma trajetória de queda ao longo deste ano, mas a ala política do governo identificou uma necessidade urgente de despejar dinheiro em medidas que possam atenuar o mal-estar da população com a economia.
Planalto tentou disfarçar o interesse eleitoreiro, mas deixou suas impressões digitais. Uma das propostas foi escrita no gabinete do ministro da Casa Civil, teve a bênção de Bolsonaro e foi apresentado na Câmara pelo centrão. Outro projeto, no Senado, recebeu o apoio formal de um dos filhos do presidente.
Nem mesmo os escudeiros palacianos conseguiram explicar o teatro mal ensaiado. O líder de Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros, alegou que o governo é contra a proposta e jogou para o Congresso a responsabilidade pela discussão das medidas. Ele admitiu, no entanto, que o presidente quer zerar os impostos federais sobre os combustíveis.
O governo recorreu à encenação porque identificou uma emergência política incompatível com o personagem que Bolsonaro pretende levar à campanha. O presidente está disposto a gastar o que for preciso para reduzir suas chances de derrota nas urnas, mas insiste na imagem de um governante austero com o dinheiro público para continuar enganando uma parte do eleitorado.
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