Paulo Guedes acaba de perder o poder que não tinha
Vinicius Torres Freire
Um decreto de Jair Bolsonaro submeteu Paulo Guedes à tutela oficial de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, em alguns assuntos orçamentários menores. Nogueira é senador e presidente licenciado do PP, um dos dois regentes do que sobra do governo bolsonariano: a distribuição de dinheiros que auxiliem a eleição da turma do centrão. O outro regente é Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara.
Dizem que Guedes perdeu poder. Perdeu poder de quê?
Para começar, qualquer ministro da Economia pode pouco se não há um governo com rumo e base parlamentar, para nem mencionar articulação social. O governo de Jair Bolsonaro não existe, para todos os fins humanos e positivamente práticos.
Quando se meteu em assuntos econômicos, Bolsonaro sabotou ou desmoralizou Guedes, como se o ministro ainda precisasse passar mais vergonha depois de tanta promessa de trilhão, déficit zero, da privatização da semana que vem, afora disparates e preconceitos.
Guedes não tem articulação política. Perdeu seus principais assessores. Alguns porque não conseguiam fazer nada ou não sabiam fazê-lo. Uns foram fritados por Bolsonaro. Outros saíram para não dar mais vexame ou com medo de processos, como a baciada que debandou quando chutaram o pau de teto de gastos.
Além do mais, Guedes perdeu um naco do seu superministério cheio de criptonita (o Trabalho). Pode ser que o Planejamento seja amputado também na "reforma ministerial", um arranjo final do governo para a reeleição, aliás enrolado.
Em outubro de 2021, Guedes já era um pato manco depenado, como se escrevia nestas colunas. Então, já havia perdido o poder sobre o Orçamento de 2022. Isto é, sobre pequena parte do dinheiro federal, pois 95% é carimbada para despesas obrigatórias, na prática mais do que isso, se não se quiser apagar a luz e fechar as portas da "máquina". Lira, Nogueira e o comitê central do centrão tomaram conta.
A política macroeconômica, que era pouca, se acabou com a mudança inepta e picareta do teto de gastos. Está à deriva, nas ondas do mercado de juros e câmbio, que mais e mais vai depender da política, da eleição e das atrocidades de Bolsonaro, ou nas mãos do Banco Central. Fim. Claro que sempre é possível fazer mais besteira. Para todos os fins prestantes, é isso: fim.
Dizem que, com o decreto, Nogueira vai ficar com o pepino de definir politicamente o destino de uns dinheiros, arbitrando a fome das hienas. Nogueira pega o pepino e faz salada, que come com gosto. É parte da sua dieta política, que é retalhar os dinheiros públicos entre amigos de paróquias e currais.
FOLHA