Todo mundo vai sofrer
" Desde que o samba é samba e que o sertanejo é sertanejo, desde que a MPB é MPB, com todos os ritmos e letras, regionalismos e tendências que compõem a mistura musical mais extraordinária do mundo – porque não há, e isso eu assino embaixo e ofereço as mãos com que digito ao fogo, não há no mundo música mais rica que a brasileira –, enfim, desde o começo dos nossos esquindôs a mulher sofre nas letras. E Marília Mendonça ajudou a colocar ordem no palco, dizendo que agora todo mundo ia sofrer, e não apenas as mulheres. Cantando que o para sempre virou pó, que as mulheres precisavam esquecer e superar, e quem se prostituía não era vadia ou vilã.
Ela não fez isso com delicadeza, como se fosse eu a dizer para minha filha: “Vai lá, meu bem, botar um casaquinho.” Marília Mendonça não tinha uma voz. Ela tinha um estrondo na garganta. Era um ciclone, que preenchia o palco e irradiava para a plateia. Na voz de Marília, versos se tornavam ordem. Por exemplo, na canção Alô Porteiro, sobre uma mulher que manda barrar o companheiro infiel na portaria: Pegue suas coisas que estão aqui/Nesse apartamento você não entra mais […] Alô porteiro, tô ligando pra te avisar/Esse homem que está aí/Ele não pode mais subir/Tá proibido de entrar."
leia artigo de Martha Batalha