De Bernardo Carvalho a Chico Buarque, a ficção traz constatações desagradáveis
"Dos contos de Chico, mais tradicionais, aos quadrinhos realistas, passando pela prosa estranha-familiar de Bernardo, a tragédia da pandemia serve, na ficção, para magnificar a extensa e profunda derrocada do país. Pouco comparáveis entre si, os autores flagram, em detalhes expressivos, a hedionda refundação do Brasil pelo ressentimento — que é, em última instância, um movimento suicida. “O país conspirava contra si mesmo”, observa o narrador de O último gozo do mundo. “É possível que tivesse conspirado contra si mesmo desde sempre e que a doença fosse seu coração. O que o governo afinal representava às claras era uma sociedade consagrada a espoliar-se até a morte.”