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    quarta-feira, setembro 29, 2021

    Hang transforma CPI da Covid em "live" e lucra com exposição midiática

     


    Mauricio Stycer

    Por sua natureza, a de um inquérito público, eventualmente transmitido pela televisão, CPIs são eventos midiáticos. Para o bem ou para o mal, promovem a imagem de quem participa. Têm roteiro pré-definido, mas os diferentes "atores" são capazes de alterar os caminhos programados. Lembram, por isso, mais um reality show do que um programa de humor ou uma novela.

    Cada sessão produz diferentes fios narrativos, muitas vezes caóticos, que são enxergados de formas diferentes por quem acompanha o embate. Quem assiste, torce por um ou outro protagonista. O herói de um espectador pode ser o vilão de outro. O resultado é positivo ou negativo, divertido ou aborrecido, dependendo do olhar de quem acompanha.

    O depoimento do empresário Luciano Hang na CPI da Covid nesta quarta-feira (29) foi uma ótima oportunidade de explicitar o caráter midiático deste tipo de evento.

    Hang tem as qualidades de um bom comunicador - fala bem, argumenta com facilidade, é enfático e não tem vergonha de expor a própria imagem mesmo parecendo ridículo. Refinou estes talentos nos últimos anos, fazendo propaganda das suas lojas, defendendo o governo Bolsonaro em diferentes plataformas, na internet, ofendendo os seus adversários com grosseria e participando de uma infinidade de programas de televisão, muitos deles patrocinados por sua empresa.

    Por este motivo, o reconhecido talento midiático de Hang, houve divergências dentro da CPI se seria oportuno convocá-lo para depor. Muitos temiam que o empresário se saísse bem, do ponto de vista da argumentação e da imagem, no confronto com os senadores que o enxergam como vilão.

    Hang dominou a cena na CPI. Transformou o evento numa "live". Exibiu um vídeo promovendo a sua rede de lojas. Trouxe cartazes com mensagens em defensa do seu direito de se expressar. Fez autopropaganda de ações de benemerência em Manaus durante a pandemia. Enfrentou os senadores com altivez e, eventualmente, arrogância, ao criticar e corrigir perguntas dos parlamentares. Se colocou na posição de vítima ("estão me cortando, que democracia é essa?").

    Na altura em que escrevo este texto (14h), ainda não é possível saber se Hang vencerá ou perderá o confronto do ponto de vista jurídico, legal. Mas, do ponto de vista do espetáculo, de quem assiste, o resultado já está determinado. Seus fãs vão vibrar com os vídeos selecionados que inundarão as redes sociais; os que o enxergam como vilão vão compartilhar os seus piores momentos.

    Num momento de tamanha polarização e difusão aberta de fake news e desinformação, uma figura com o talento comunicacional de Hang não tem como perder.

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