José Luís Fiori: ''Bolsonaro não terá sucesso caso tente sabotar as eleições de 2022''

"Hoje o verdadeiro problema militar é outro, e tem a ver com o fracasso dos militares na condução do governo Bolsonaro para o qual forneceram mais de 6 mil quadros e do qual seguem sendo os seus principais avalistas. E, como consequência, a cada dia que passa, aumenta ainda mais a distância entre as expectativas depositadas pelos setores da sociedade brasileira que acreditavam no mito da superioridade técnica e moral das FFAA, e o desempenho concreto e frustrante destes milhares de oficiais da ativa e da reserva que tomaram conta da maioria dos postos estratégicos deste governo.
Donde vai ficando cada vez mais claro para a população brasileira que estes senhores de farda e de pijama não foram preparadas nem estão capacitados para administrar políticas públicas, e muito menos ainda para fazer política partidária ou parlamentar. A sua própria formação hierárquica e autoritária – como já vimos – os impede de se desempenharem com proficiência nestas funções, fora dos seus quartéis.
A começar pelo caso patético do próprio presidente, que é capitão da reserva, e que fez sua formação intelectual na escola militar, e que até hoje não consegue formular uma ideia que tenha início, meio e fim, para não relembrar o seu ex-ministro da Saúde que não sabia nem mesmo onde ficava o Hemisfério Norte, não conhecia o SUS e nunca conseguiu entender o que fosse uma pandemia, ou planejar uma campanha nacional de vacinação adequada. E o que dizer de um Gabinete de Segurança Institucional que não conseguiu identificar um pacote de 39 quilos de cocaína dentro do avião do presidente da República, que se tivesse sido uma bomba já poderia ter levado a vida do próprio presidente; ou do hilário “ministro astronauta”, da Ciência e Tecnologia, que está assistindo a liquidação da pesquisa científica no Brasil como se estivesse dando um passeio de satélite;; ou ainda, do ministro de Minas e Energia, que não conseguiu prever nem sanar o problema do apagão energético em Amapá e Roraima, nem tampouco impedir o aumento do preço da energia, que vai onerar pesadamente o orçamento doméstico dos brasileiro, nesta segunda metade do ano de 2021.. E assim por diante, numa lista interminável de militares da ativa e da reserva que foram alçados a suas posições governamentais graças – em última instância – à ingenuidade do homem comum desesperado e desamparado depois do fracasso do governo de Michel Temer, e que acabou depositando suas esperanças na intervenção explícita desses senhores de uniforme ou de pijama."
Leia entrevista com José Luis Fiore
Feita por Rodrigo Martins