Saúvas de farda
"Além do loteamento de cargos no go-
verno, as Forças Armadas receberam
numerosas benesses de Bolsonaro. Em
2019, quando a Reforma da Previdência
obrigou os brasileiros a trabalhar por
mais tempo para ter direito à aposenta-
doria, a turma fardada conseguiu barga-
nhar uma reforma mais branda, atrelada
a um generoso plano de reestruturação
de carreiras que aumentou o salário dos
militares na ativa em até 43%. Resultado:
a economia com os vencimentos de pra-
ças e oficiais foi reduzida a 10,5 bilhões
de reais em dez anos, o equivalente a 1,3%
dos 800 bilhões de reais que o governo
tirou dos aposentados em geral. A maior
parte dos privilégios permaneceu into-
cada, como a aposentadoria com salário
integral e sem idade mínima.
O projeto tampouco pôs fim à farra das
pensões vitalícias para filhas de milita-
res. A benesse foi extinta em 2000 para
novos servidores, mas quem antes esta-
va nas Forças Armadas pode pagar um
adicional de 1,5% na contribuição pre-
videnciária para manter o privilégio
.
“Muitas beneficiárias acabaram se ca-
sando e, após a morte do marido, acu-
mularam pensões, uma por ser viúva e
outra por ser filha de militar falecido. E
o pior é que o STF tem autorizado a con-
cessão desse duplo benefício”, comenta
o deputado Paulo Pimenta, do PT. “Com
Bolsonaro, as benesses foram ampliadas.
Ele dobrou, por exemplo, o valor da ajuda
de custo paga aos militares transferidos
para a reserva. Agora, quem se aposenta
recebe o equivalente a oito salários, isso
não existe em nenhum lugar do mundo.”
Em junho de 2020, o ex-capitão tam-
bém reajustou em 73% a bonificação sa-
larial paga aos militares que fazem cur-
sos ao longo da carreira. O penduricalho,
chamado de “adicional de habilitação”,
custará aos cofres públicos mais de 26,5
bilhões de reais em cinco anos. Para su-
portar tantos privilégios, Bolsonaro tur-
binou o orçamento do Ministério da De-
fesa. Em 2021, pretende gastar 110 bilhões
de reais. É quase o mesmo valor que o go-
verno se dispôs a gastar com a pasta da
Educação ao longo deste ano, 114 bilhões.
Nem mesmo a pandemia reduziu o ape-
tite da turma. No fim de janeiro, o site Me-
trópoles causou alvoroço ao revelar as des-
pesas do governo com alimentos e bebi-
das, que teriam totalizado 1,8 bilhão de re-
ais no ano passado, segundo um levanta-
mento feito pelo portal no painel de com-
pras do Ministério da Economia. Entre as
mais controversas, figuravam os 15,6 mi-
lhões de reais gastos com leite condensado
e os 2,2 milhões usados na compra de chi-
cletes. A Defesa concentrava a maior parte
dos gastos, ao menos 632 milhões de reais.