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    domingo, abril 18, 2021

    “Não tem trabalho, não tem vacina”

    “Não tem trabalho, não tem vacina”


    "São pouco mais de oito horas da manhã, faz 26 graus à sombra, e Andreia Venâncio já percorreu cinco vezes o caminho que separa sua casa da caixa d’água comunitária onde enche os baldes para limpar, dar banho nos cinco filhos, entre cinco e 16 anos, e cozinhar a pouca comida que lhe resta. A mulher de 37 anos caminha inclinada para a direita, equilibrando o peso dos 10 litros de água que carrega. Até o anoitecer, ela fará esse trajeto inúmeras vezes, vezes demais para contar exatamente quantas são. Na Ocupação Esperança, em Osasco, a quarenta minutos em carro do centro de São Paulo, a água é um bem escasso. “Estamos há mais de um mês sem água em casa, passo os dias carregando baldes”, conta ela, que, como a maioria dos mais de mil moradores da ocupação, depende quase exclusivamente de benefícios governamentais para sobreviver.

    Andreia recebe 510 reais do programa Bolsa Família e, até dezembro, contava com o auxílio emergencial, criado pelo Governo durante a pandemia, no valor de 600 reais. Com o corte deste último, em dezembro, o que já era difícil ficou ainda mais complicado. “Meu marido ainda faz bicos como pintor, mas, justamente no ano de pandemia, os alimentos ficaram mais caros, não dá mais para comprar carne. Carne é luxo! Até o preço do ovo, que era mais barato e que a gente sempre comia, aumentou”, lamenta, na porta de casa, diante das quatro vizinhas com quem comparte uma viela. Todas assentem com a cabeça e fazem coro às suas queixas. “Falta até arroz e feijão. A gente vai se virando, pede aos vizinhos... E tem dias que, em vez de fazer arroz com feijão, fazemos só um macarrão e farofa”, acrescenta. No dia 18 de março, o presidente Jair Bolsonaro assinou a medida provisória com as regras para a nova rodada desse benefício, que constará de quatro parcelas, pagas a partir de abril a 45,6 milhões de pessoas ―22,6 milhões a menos do que as contempladas em 2020—. Elas só receberão, no entanto, entre 150 e 375 reais, a depender da composição familiar."

    mais na reportagem de Joana Oliveira

    “Não tem trabalho, não tem vacina” | Atualidade | EL PAÍS Brasil

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