Primeiro Comando de Curitiba
"Mais do que revelar a ilegal colaboração
entre o juiz e os procuradores, responsá-
veis pela acusação, as mensagens eviden-
ciam que Moro era o verdadeiro chefe da
força-tarefa da Lava Jato, sentindo-se à
vontade para ditar ordens e cobrar resul-
tados de Dallagnol. O procurador esme-
ra-se em agradar ao “chefe”. “Não é muito
tempo sem operação?”, pergunta o magis-
trado em 31 de agosto de 2016. “O proble-
ma é que as operações estão com as mes-
mas pessoas que estão com a denúncia do
Lula. Decidimos postergar tudo até sair
essa denúncia”, justifica o subordinado.
Em 3 de fevereiro de 2017, Moro queixa-
-se do número elevado de testemunhas ar-
roladas por executivos da Odebrecht, que
haviam celebrado um acordo de delação.
“Podem ver com as defesas se não podem
desistir?”, pergunta. “Resolvemos sim”,
responde Dallagnol. “Falaremos com os
advogados para desistirem.” Você não leu
errado. O juiz pediu, e o procurador as-
sentiu em pedir a exclusão de testemu-
nhas apresentadas por delatores.
Há absurdos maiores. Em 23 de feve-
reiro de 2016, Moro perguntou aos pro-
curadores se eles tinham “uma denúncia
sólida o suficiente” contra Lula. Dallag-
nol então detalha o plano para relacionar
o ex-presidente aos desvios na Petrobras
e arremata: “Estamos trabalhando a co-
laboração de Pedro Corrêa, que dirá que
Lula sabia da arrecadação via PRC (Pau-
lo Roberto Costa) e marcaremos o depoi-
mento de PRC para um dia depois da nova
fase, para verificar a versão dele”. É a con-
fissão de algo que os defensores de réus
da Lava Jato alertam há tempos: as dela-
ções eram orientadas pelo Ministério Pú-
blico, os colaboradores diziam exatamen-
te aquilo que os procuradores desejavam.
Isso, ou Dallagnol tem um talento oculto
para a vidência ou a cartomancia, é capaz
de prever o que um delator vai lhe contar."
MAIS NA REPORTAGEM DE RODRIGO MARTINS