De youtuber a militante: autores imaginam o Menino Maluquinho em sua versão adulta
A pedido do GLOBO, autores reimaginam o personagem em sua versão quarentona.
Guilherme Gontijo Flores
Escritor e tradutor, autor de "História de Joia"
Agora é nome completo e sobrenome, diminutivo resta só pros seus afetos fortes; anda preocupado com a segunda via do RG e da carteira de motorista (eita, perdidas numa esquina desta vida desatenta), que em tempos de quarentena complicou foi muito, ainda mais no zero-tempo entre trabalho oficial, biscate, criança, um ou outro estudo que pinta, isso tudo que andam por aí chamando vida e que ele bem aceita. É uma canseira; mas, sabe, tem a graça de ver panelas nas cabeças dos novos pequenos, os próprios e os alheios, das meninas que inventam furacão nas casas, até que nada fique no lugar, o que volta a dar trabalho etc — espiralando. É mesmo uma canseira. Tem dia que é de largar tudo, só que não larga: a maluquice mesmo é bem dos outros, hoje. O que fica, no fundo do fundo, no cantinho do resto sobrado de cada dia, é um troço que vem de quina, invade a íris do olho e brilha, brilha. Tem dia que é lágrima que apaga incêndio fora e dentro; tem dia que não apaga nada do que vê lá fora. E não, nem ele mesmo vê, que não coincide com o pouco tempo diário de espelho. Mas ali, quando surge, brilha, brilha, quase como dantes. E não é cisco, não. É um corisco interno, que sempre amplia o mundo, menor que seja. E brilha, brilha.