Olívio Dutra: Enquanto maioria nega Sistema Solar e acredita no sistema Neymar, há quem conserve a esperança

"“Eu acho que não somente o PT, mas o campo democrático popular, que evidentemente não surgiu de cima para baixo e nem por geração espontânea, tem muito o que aprender e o que fazer. Este país não pode ficar pior do que já é, com uma concentração de renda que o torna campeão mundial na matéria, comandado por um governante que pisoteia direitos, infeliz cidadão.” Observo que a radiografia é perfeita, meu amigo acentua: “Esta é a questão, o que não estava bom ficou ruim ou o que estava ruim ficou pior”. Transparece que o PT não foi aquele que ele esperava. “O PT nasceu de uma luta séria contra a ditadura, a favor de uma democracia que não fosse formal, discursiva, mas vivida por milhares de pessoas. Temos uma tarefa que está longe de ter sido esgotada com as crises pelas quais passamos e estamos passando, com os erros que cometemos. Fizemos também coisas muito importantes, mas ficamos mais com políticas públicas do que com reformas estruturais do Estado, que continua a ser uma cidadela dos poderosos, das elites tradicionais, que vem desde o Brasil colônia. O Estado é uma estrutura que nunca esteve ao alcance da maioria da população brasileira, nem quando nós chegamos ao governo com os dois mandatos do presidente Lula e os dois incompletos, o segundo, da presidenta Dilma. A máquina foi sempre dominada por dentro e de fora para dentro pelas elites.”
É fundamental, segundo Olívio, que haja representação política popular nas instâncias institucionais, “mas não sejamos prisioneiros delas”. Queixa-se ele de uma estrutura tributária que permanece intocada, quem tem mais paga menos, “enquanto os governantes alegam não ter dinheiro para executar políticas de integração social e desenvolvimento”. No governo Lula, o PT chegou a ter maioria no Congresso. Estava em jogo uma reforma tributária para inverter a situação de injustiça flagrante em pleno vigor. E o que aconteceu? “Sentaram em cima dessa proposta.” A verdade é que a ideia de Lula expressa uma visão de sociedade de partilha, de convivência e solidariedade, sem deixar de respeitar a pluralidade, a diversidade e a luta por justiça e igualdade.
Na visão do ex-ministro e governador do Rio Grande do Sul, esta ideia não teve maioria no Congresso. Tivemos um governo de centro-direita no primeiro mandato de Lula. “No segundo foi mais à direita e quando chegou Dilma mais à direita ainda, até que no segundo mandato puderam dar o golpe.” O PT acreditou na conciliação com as elites velhas de guerra “e nunca entendeu que quem não pensava como nós era inimigo, mas adversário, e a disputa deu-se no espaço democrático, sem que nós percebêssemos que o Estado não pode ser a trincheira dos mais poderosos, das famílias tradicionais, daqueles que fazem bons negócios com o dinheiro público, sem o mínimo retorno em proveito do País”."
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feita por Mino carta
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