Teste para a secretária de Cultura Regina Duarte.
de HUGO SUKMAN
Uma produtora e atriz inscreve seu projeto de espetáculo musical na Lei Rouanet. Tal peça é sobre uma menina do interior que sonha em ser atriz na capital mas é impedida pelo marido, um ruralista reacionário, com quem casou obrigada. Até que conhece um jornalista da capital, aliás interpretado por José de Abreu, que se apaixona por ela e a convence a realizar seu sonho. No final, a menina do interior rompe as amarras e torna-se de fato uma atriz de musical. Na grande estreia, ela canta uma música como quem explica sua decisão:
Nem a loucura do amor
Da maconha, do pó
Do tabaco e do álcool
Vale a loucura do ator
Quando abre-se em flor
Sob as luzes no palco...
Da maconha, do pó
Do tabaco e do álcool
Vale a loucura do ator
Quando abre-se em flor
Sob as luzes no palco...
Bastidores, camarins
Coxias e cortinas
São outras tantas pupilas
Pálpebras e retinas...
Coxias e cortinas
São outras tantas pupilas
Pálpebras e retinas...
Nem uma doce oração
Nem sermão, nem comício
À direita ou à esquerda
Fala mais ao coração
Do que a voz de um colega
Que sussurra "merda"...
Nem sermão, nem comício
À direita ou à esquerda
Fala mais ao coração
Do que a voz de um colega
Que sussurra "merda"...
O que Regina Duarte faria nessa situação? Aplicaria o filtro cristão-nacionalista-bolsonarista ou autorizaria a captação de recursos de uma peça que louva a arte e a classe artística, que tem como vilão um ruralista reacionário e como herói um jornalista progressista (vivido por José de Abreu!) e, como música-tema uma canção chamada "Merda", que compara a loucura da maconha e do pó com uma doce oração e um sermão? Seria fiel a si mesma em 1985 quando estrelou e produziu "Miss Banana" ou leal ao seu novo chefe?
Aliás, merda para Regina em seu novo trabalho.